quarta-feira, 30 de março de 2011

UBATUBA , ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA ......26 ª PARTE



Os espíritos nas crenças Tupinambá perambulavam por toda parte, principalmente na mata e em lugares escuros, manifestando-se de forma sinistra. Os espíritos dos mortos freqüentavam a proximidade das tumbas e seu comportamento era hostil em relação aos homens, causavam doenças, dificultavam o devir das chuvas e propiciavam a derrota na guerra. Estes espíritos agrediam fisicamente e atormentavam os índios de diversas maneiras.





Os “diabos” Tupinambá são segundo Métraux, os próprios mortos que Thevet descreve em episódios de navegação que os indígenas faziam pelo mar o pelos rios. Os índios atribuíam às almas de seus parentes e amigos mortos, a causa de tais incômodos, o modo de espantar esses espíritos era lançando oferendas na água com o fim de aplacar a fúria das tormentas onde estes se revelavam.

Os espíritos apareciam sob a forma de animais estranhos e bizarros, pássaros negros como morcegos e salamandras, eram mensageiros do além tumular. Alguns destes espíritos mudavam de cor e emitiam sons estranhos, a sua presença redobrada e os ataques se davam de noite, para espantá-los e ver-se livre deles, os índios acendiam fogueiras e cercavam a entrada de suas ocas. A cólera destes impertinentes era aplacada com a oferenda de penas ou com amuletos em forma de escudo feitos de madeira com palmeiras pintadas de preto e vermelho, representando um homem nu, recomendação esta dada pelos pajés.

O êxito dos missionários católicos no processo de evangelização se deve ao fato de usar o símbolo da cruz para manter os espíritos que faziam mal da aldeia afastados. Entretanto, existiam também os espíritos benevolentes, os Apoiaueué que atraiam as chuvas, protegiam as plantações e a integridade física dos indígenas. O comportamento destes espíritos do bem era atribuído ao exorcismo dos pajés.

Alfred Métraux constata que no século XVI, o animismo estava a ponto de evoluir para o fetichismo, uma mostra desta evolução cultural eram as tentativas do culto, de ritos na demarcação de lugares sagrados e da representação material de seres superiores por meio de objetos de temor e de veneração por parte dos índios Tupinambá.

As cabaças imitavam o rosto humano, objeto que os pajés levavam consigo, com o intuito de representar a configuração material desses espíritos. A cabaça seria uma espécie de máscara enquanto mistério da alma humana, pelos menos assim aparece no contexto da civilização na maioria das tribos que reconhecem a força mediadora deste objeto como um mistério de transação. Os feiticeiros entravam nas choças escuras portando estas cabaças desenhadas com traços humanos, o “pay” – pajé começava então a falar mudando de voz para ganhar as oferendas oferecidas aos espíritos. O espírito contido nas cabaças era consultado antes de qualquer combate, ornamentadas com penas e reverenciadas com sacrifícios por parte do pajé.

Nas imediações da aldeia, no meio do mato existia um lugar de retiro onde o curandeiro consultava os espíritos, para lá levava consigo fogo, água, carne, peixe, milho, legumes, penas coloridas e flores. Preparava um sacrifício em honra dos ídolos queimando resina, acreditava-se que assim o feiticeiro entrava em contato com os espíritos. O maracá, instrumento musical feito de cabaça no qual se introduziam sementes ou pedras era uma espécie de chocalho atravessado por uma flecha, enfeitado de tufos de penas de arara. O ruído produzido pelo maracá representava a voz dos espíritos, revestidos de todas as virtudes capazes de satisfazer qualquer desejo dos indígenas. Por meio destes rituais competem pela posse do maracá mais eloqüente e impelem aos ouvintes para a guerra e para trazer à tribo a carne dos inimigos. Os caraíbas, pajés ou feiticeiros iam de aldeia em aldeia vestidos com os mais esplendorosos vestidos e plumagens, usufruindo a comida e a bebida do cauim por semanas, tamanho era o poder mediador destes em relação aos espíritos nestas festas religiosas.






CONTINUA......Veja no próximo dia 02 de abril a 2 7 ª  parte - ubatuba , espaço, memoria e cultura - livro editado em 2005, por Jorge Otavio Fonseca e Juan Drouguet ( publicarei na data citada das paginas 150  à 155.

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