A filiação deste personagem da mitologia Tupinambá está de tal forma identificada com o maior ancestral da tribo que alguns estudiosos chegam a falar que se trata da mesma figura. De qualquer forma, o laço consangüíneo atribuído a este semideus insiste no traço parental anteriormente citado.
Em princípio Irin – Magé é o único homem salvo do aniquilamento universal, dotado da arte de transformação, o poder deste caraíba, espécie de profeta munido de poderes mágicos, o faz aparecer na mitologia Tupinambá como um feiticeiro, que vivia em retiro, em jejum e rodeado de seguidores. Introduziu as práticas sagradas e mágicas entre os índios, que foram observadas a rigor como o costume da tonsura, a depilação e o achatamento do nariz nos recém nascidos. Irin – Magé desaconselhava comer carne de animais pesados e lentos; a dieta devia ser substituída por animais ligeiros com o fim de adquirir essa habilidade por ingestão. Mas, a ação civilizadora desta figura consistiu em haver desenvolvido a agricultura entre os antepassados Tupinambá, base da alimentação que garantia a sobrevivência do seu povo. O advento de uma grande carestia que assolou a humanidade fez com que Irin – Magé se transformasse em uma criança que ao apanhar provocava abundantes chuvas que regavam as plantas semeadas na aldeia. Também ensinou aos índios a distinguir os vegetais para o consumo daqueles que eram venenosos e mostrou por acréscimo as virtudes medicinais das ervas Também eram atribuídas a ele as formas de governo da tribo.
O poder transformador de Irin – Magé se projetava no universo mais imediato da selva, dos animais, das coisas e até da própria existência. Homens que Irin – Magé transformou em animais, irados por causa de sua metamorfose, decidiram matá-lo. Convidaram-no para uma festa onde o obrigaram a saltar três fogueiras acesas. Após saltar a primeira com êxito, a divindade evaporou-se e foi assim consumida pelas chamas. Sua cabeça explodiu produzindo um enorme trovão, enquanto as labaredas do fogo se transformaram em raios. Irin – Magé subiu ao céu e virou uma estrela junto com dois de seus seguidores.
A Irin – Magé ou Maire – Monan corresponde a função mediadora entre o céu de Monan e a humanidade Tupinambá. Tratando-se de um desdobramento de Monan como o faz parecer Métraux, preferimos chamar isto de um desprendimento e continuidade do trabalho incompleto de Monan. Este semideus caracteriza-se por sua proximidade com o modo de viver de seu povo, pela solidariedade expressa nas suas transformações e, sobretudo, pelo poder com que transcende os limites da terra e se projeta na natureza celestial, é uma das grandes imagens da mitologia Tupinambá.
Sommay – Sumé é citado na mitologia de Thevet também como “grande Pajé e Caraíba”, pai dos irmãos Tamendonare e Aricoute provocadores do dilúvio. Apesar da similaridade identitária entre esta figura e Irin – Magé, Sommay ou Sumé é revestido nas crônicas portuguesas de características diferentes. Thevet estabelece um laço parental com o fim de preencher a lacuna dizendo que Sommay é descendente de Irin – Magé. Outro caraíba ou profeta da mitologia Tupinambá é Maire – Atá, pai dos gêmeos míticos que depois de tê-los concebidos, abandonou a mãe e se foi com destino a uma taba próxima de Cabo Frio, onde exerceu ,como feiticeiro , grandes habilidades de predizer o futuro.
Os gêmeos míticos são um capítulo importante na mitologia Tupinambá. Seus destinos estão intimamente ligados, mas há o fato de não nascerem do mesmo pai, pois um é filho de Maire – Atá, o grande herói –civilizador e, o outro, de um homem comum sem nenhuma particularidade. A mãe do filho de Maire – Atá, como mencionamos anteriormente, ao ser abandonada por este sai a sua procura guiada pela criança que carrega no ventre e lhe indica o caminho a seguir. A mãe, recusando-se a colher “legumes” conforme indicava o filho ,provoca a cólera do menino que se cala causando o extravio da progenitora Assim, a mãe chega à casa de Sarigoys que lhe oferece hospitalidade e durante a noite dorme com ela, deixando-a grávida de uma outra criança. Continuando sua busca, a mulher chega a uma aldeia cujo chefe é Iarnare que segundo os tupinólogos quer dizer jaguar. Vítima da crueldade dos indígenas que habitavam essa aldeia, é cortada em pedaços e devorada em banquete. Os filhos são jogados no lixo e uma mulher compadecida os recolhe e os cria. A origem sobrenatural das crianças, revela-se por seu rápido crescimento e pela habilidade que demonstram ao caçar. Indo certa vez à procura de frutos, os gêmeos decidem vingar a mãe e para isto, arrastam os habitantes da aldeia a uma ilha. Na travessia da água, promovem uma tempestade e os aldeões são afogados e transformados em animais felinos. Satisfeitos em seu desejo de vingança, os gêmeos vão à procura do pai e o encontram em uma aldeia próxima de Cabo Frio, onde gozava de grande nome como mago e adivinho. Os dois irmãos entram na oca paterna e se declaram filhos de Maire – Atá. O velho, portador de um diadema, fica feliz pelo encontro, mas se recusa a reconhecê-los sem antes submetê-los a provas. A primeira prova consistia em atirar com o arco e, as flechas dos gêmeos ficam suspensas no ar. A segunda consistiu em passar três vezes através da pedra Ita – Irápi, cujas metades se entrechocavam rapidamente. O filho de Maire – Atá recomenda a seu irmão ir primeiro, tendo em vista o perigo e lembrando-o de sua origem mais humilde. O irmão é esmagado pela pedra, o outro recolhe seus restos e o retorna a sua forma primitiva. Daí em diante, o filho de Sarigoys se sai muito bem nas provas restantes. O pai Maire – Atá exige mais uma prova : ambos deveriam ir a Agnen- Pinaiticare e furtar deste, os aparelhos da pesca do peixe Alain, peixe que serve de alimento aos mortos. O filho de Sarigoys tenta a sorte e é dilacerado por Agnen, retornando à vida graças a seu irmão. Juntos alcançam a isca do anzol de Agnen. Levam assim para Maire – Atá a prova de sua façanha e este os recebe como seus filhos, embora com a idéia de submetê-los a novos trabalhos.
CONFIRA NO DIA 22 /03 , A 25 ª PARTE DO ESPECIAL " UBATUBA , ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA....Paginas 141 (metade) ATÉ 144...
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