Sequencia do capitulo anterior intitulado " 2. OS TUPINAMBÁ, TRAÇOS DA FORÇA E DA RESISTÊNCIA DE UMA RAÇA., do Livro " Ubatuba , espaço, memória e cultura"...
A descrição física dos Tupinambá fala de homens altos e muito fortes, uma constituição física bem atlética. As mulheres Tupinambá tinham seus corpos bem delineados, uma pele morena e bronzeada. “Selvagens” que andavam completamente nus e que mantinham o asseio corporal banhando-se várias vezes ao dia nos rios. Eles ornamentavam-se com uma variedade de adereços da própria fauna e flora da região com cocares feitos de penas coloridas, pequenas pedras brilhantes catadas no fundo das corredeiras e pedaços de peles de animais.
Muito alegres, gostavam de uma folgança ao som de músicas, cantarolando e executando muito bem seus instrumentos de sopro e de percussão. Com muita dança e diversão, os silvícolas regavam suas festas com um tipo de aguardente chamado cauim feito com a mandioca fermentada.
Os Tupinambá habitavam desde o rio Juqueriquerê, em São Sebastião, Litoral Norte do Estado de São Paulo até o Cabo de São Thomé, perto da Capitania do Espírito Santo, toda essa faixa era reconhecida como território Tamoio. Sentiam-se bem protegidos nesta região pela grande e vasta Serra do Mar que o isolavam das más surpresas e ameaças do planalto . Apegados a esse domínio, os Tupinambá se reconheciam neste espaço e lutavam por sua conservação. Aproveitando-se das vantagens da terra que os protegia, os Tupinambá usufruíam dela, da amenidade do seu clima e da fertilidade do seu solo, tudo o que precisavam à sua sobrevivência estava ali, tornando-se propício levar uma vida relativamente tranqüila em harmonia com o meio.
Além de exímios caçadores e pescadores, com grande habilidade e muita destreza no arco e flecha , cultivavam plantações de mandioca, e feijão, batata, milho, entre outros produtos de sua incipiente agricultura. Um pequeno pomar fazia parte das suas plantações como goiabeiras, bananeiras e outras árvores frutíferas nativas. Cultivavam ainda, o algodão e plantas fibrosas que serviam para confeccionar muitos artefatos como: redes, cestos, utensílios que ainda hoje são de grande utilidade aos caiçaras e pescadores.
Realmente a raça indígena, principalmente a Tupinambá, sabia tirar o máximo proveito da terra, respeitando-a com veneração e sentindo-a como parte de si. Até mesmo as majestosas árvores, enormes embiruçus, guapuruvas ou cedros, os serviam na confecção daquilo que viria a ser um grande instrumento para locomoção, as igaras. Canoas de lotação que carregavam até mais de 20 índios, meio de transporte mais rápido nos intercâmbios amistosos entre as tribos regionais, facilitando a amizade, a boa vizinhança.
A raça dos índios Tupinambá tinha a fama de ser guerreira, brava, feroz e antropófaga. Efetivamente, os Tupinambá eram grandes e valentes guerreiros em defesa de sua gente e de seu habitat. As circunstâncias em que viviam os tornavam mais preocupados com a manutenção e os meios de sobrevivência. Por isso, suas tabas localizavam-se em pontos altos e próximos as margens dos rios, permitindo a facilidade na defesa e não no ataque, desmentindo assim tamanha ferocidade e canibalismo que lhe são atribuídos1. Sendo assim, os Tupinambá estavam mais para o pacifismo do que para as lutas armadas, guardavam consigo bons sentimentos como a generosidade e a nobreza.
Porém, os Tupinambá, na necessidade de auto defesa ante um ataque inimigo que ameaçava a liberdade individual e coletiva, se mostravam destemidos e muito bravos com um instinto de defesa muito aguçado nos combates e cruéis na vingança. Eles chegavam a pressentir a aproximação do inimigo pelo faro, utilizavam-se de artimanhas marcando percursos na mata , deixando galhos e ramos quebrados para facilitar a sua volta. Quando saiam em marcha ou batiam em retirada, caminhavam de costas a fim de enganar o inimigo a respeito da real direção tomada.
Todos estes aspectos da raça Tupinambá se cruzam nos relatos de viajantes e cronistas advindos ao amanhecer de uma nação. São unânimes em descrever o caráter forte, aguerrido e resistente destes indígenas que se ancoraram na idiossincrasia do povo brasileiro. Cabe aqui destacar o papel importante de José de Anchieta que no exercício de seu apostolado entre os índios da Aldeia de Iperoig nos traz um perfil completo e sensível dos Tupinambá na sua escrita epistolar.
No seu animismo elementar – diz Anchieta – o Tupinambá povoava de espíritos e lendas a floresta. Desse lugar são oriundos os gênios do mal que povoam o imaginário cultural brasileiro. Por esta razão se faz necessário reconstruir a mitologia Tupinambá e os rituais antropofágicos que definiram segundo os modernistas um traço distintivo da identidade, transmitida de geração em geração.
A mitologia Tupinambá assumida por Alfred Métraux é a descrita pelo frade André Thevet nos seus manuscritos intitulados Cosmographie Universelle - Singularidades da França Antártica (1944), que acompanhou a expedição de Nicolau de Villegaingnon em duas viagens sucessivas ao Brasil2. Apesar da considerável erudição do franciscano francês, Métraux ressalta a falta de espírito crítico do mesmo, essa deficiência intelectual torna riquíssimas suas informações acerca dos aborígines em questão.
O estudo da mitologia nos oferece uma teoria morfológica das imagens do mundo e dos sistemas metafísicos que sustentavam as crenças que regiam o agir humano desta civilização na sua relação com o meio. A vitalidade do índio Tupinambá e o mundo exterior se encontram juntos em referência recíproca. Por outro lado, na imaginação, faculdade copulativa por excelência, o mundo é simultaneamente impressão afetiva, determinação axiológica e objeto afim. Isto quer dizer que o mundo Tupinambá, como grandeza independente, é uma simples abstração, pois o índio Tupinambá e o mundo são correlatos, não só ao nível da representação. Esta junção do Tupinambá com o meio implica a descoberta de seres vivos, sensíveis, imaginativos, intelectuais e práticos.
O movimento modernista está estreitamente ligado ao tema da antropofagia, fase polêmica deste grupo liderado por Oswald de Andrade. Tal vertente ideológica do pensamento brasileiro nasce de dois manifestos que se destacaram por resgatar o primitivismo nativo e o teor dessa realidade sócio-cultural: Manifesto Pau – Brasil (Correio da Manhã, 18 – 03, 1924) e Antropofagia (Revista de Antropofagia, maio de 1928). Neste último manifesto assentaram-se as bases para aquilo que veio a se chamar “vanguarda antropofágica”, baseada nos princípios de origem tupi que veremos a seguir.
1 Os Tupinambá tinham o canibalismo não como uma forma ou necessidade de saciar a fome, mas sim como um ritual onde ao comerem seus inimigos após capturá-los, estariam possuindo sua energia e sua força.
2 André Thevet fez a sua primeira viagem ao Brasil em 1550 e a segunda entre 1555 e 1556. Os motivos missionários que impulsionava a empresa da viagem e a idade avançada deste capuchinho o fizeram incorrer em erros de memória e em contradições que só a história e a ciência se encarregaram de reivindicar. Mas, o valor da obra como testemunha imediata da “descoberta” da cultura Tupinambá traz à tona o frescor das informações e a contemporaneidade que podemos estabelecer com ela.
PRÓXIMA ATUALIZAÇÃO DIA 09/MARÇO........publicação das paginas 135, 136 e 137 do Livro UBATUBA, ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA - Esditado em 2005, por Jorge Otavio Fonseca e Juan Drouguet
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