Sequencia do capitulo anterior intitulado " 2. OS TUPINAMBÁ, TRAÇOS DA FORÇA E DA RESISTÊNCIA DE UMA RAÇA., do Livro " Ubatuba , espaço, memória e cultura"...
Queremos de certa forma justificar que as representações Tupinambá têm como correlato a intuição do mundo, assim o processo religioso desta tribo está regido pela fé nas forças divinas operantes no seu entorno. O índio Tupinambá nada sabia das causas de suas enfermidades, loucuras, etc, mas a divindade ou o ser demoníaco é o sujeito acrescentado pela visão a estes efeitos, um sujeito representável é encoberto por meio do pensamento analógico aos efeitos dos sentidos. A realidade independente aparecerá, portanto, de modo mais enérgico em uma figura sensível, por isso, todo ser divino aparece como um símbolo. A personificação é inseparável do processo fantástico da religiosidade. Estes símbolos se integram no caso Tupinambá à imagem do mundo que nos interessa salientar neste trabalho.
As primeiras figuras da cosmogonia Tupinambá são a dos civilizadores, artífices do universo e “transformadores”, unidos entre si por laços parentais:
Monan [Munhã, Moñan Monham]1 é a divindade principal do povo Tupinambá, o criador, o pai, o mais antigo, o principal da raça. “Um astro sem fim e princípio que criou o céu, a terra, os pássaros e os animais no mundo existente”, mas Monan não criou o mar nem as chuvas salvo pela intercessão do homem em um primeiro relato. Existe uma estreita relação da imagem do Deus com o pai que teria sido uma antiga revelação transmitida de geração em geração. Mas, nos chama a atenção a incompletude deste Deus que deixou para seus descendentes o desfecho da criação. Outro aspecto controverso é a imortalidade atribuída por Thevet a esta divindade que, segundo Métraux é uma noção estranha aos Tupinambá. Por outro lado, algumas tribos enxergam nos demônios a virtude da fuga como essencial à sobrevivência, isto é, escapar da morte iminente. Este fator fica em evidência uma vez que o próprio Monan destruiu a raça humana em dois cataclismos sucessivos por causa da culpa, cuja natureza se desconhece.
Existem duas destruições sucessivas do mundo na mitologia Tupinambá. Na primeira, o mundo foi consumido pelo fogo que Monan fez descer do céu com o fim de punir os homens por sua ingratidão. A superfície da terra foi consumida pela ação do calor e desse cataclismo só um homem se salvou Irin – Magé que Monan levou para o céu. Pela intercessão deste sobrevivente, Monan devolve à terra seu estado primitivo, provocando abundantes chuvas para extinguir o incêndio ateado. Assim, as águas do dilúvio escoaram-se por entre as depressões que sulcavam a terra, formando-se os rios e o mar. A salinidade oceânica foi causada então pelas cinzas diluídas na água. Monan deu uma mulher para Irin – Magé, daí surge a humanidade que povoou a terra após o cataclismo.
Outra versão do Thevet dá conta do dilúvio, entretanto, diz Métraux seria uma duplicata da primeira. Tal destruição teria sido causada por Tamendonare que irritado contra seu irmão Aricoute que lhe jogara um braço de um inimigo morto, bateu tão forte na terra que jorrou uma enorme e alta fonte de água que cobriu as colinas da serra ultrapassando a altura das nuvens. Os dois irmãos fugiram para as montanhas a fim de escapar da inundação, achando que o melhor refugio seria o cume das árvores. Tamendonare subiu em uma palmeira, Aricoute em um jenipapeiro. Depois do incidente, a terra foi povoada pelos dois irmãos.
Monan é desdobrado na mitologia Tupinambá em vários personagens, conservando certos atributos na continuidade dos relatos fornecidos por Thevet, mas a incompletude, a mortalidade e a dupla face nos permitem entrever a diferença desta divindade com a onipotência, onisciência e onipresença dos deuses com os quais costumamos lidar no nosso imaginário cultural. O laço parental que parece garantir a continuidade da ação Tupinambá encontra na filiação da horda seu mais completo sentido, assim Irin – Magé será o senhor dos fenômenos naturais e dos mistérios ritualísticos da religião Tupinambá.
Irin – Magé ou Maire – Monan [Mair – Munhã] é o ser portador dos poderes mágicos de Monan. Os Tupinambá colocam outra divindade do lado de Monan designada com o nome de Maire que significa “transformador”, designando um Deus que deu ordem às coisas, segundo sua própria vontade, afeiçoando-se a elas e convertendo-as mais tarde em diversas figuras e formas de animais, pássaros e peixes.
1 Entre parêntese: os nomes com os quais as divindades aparecem nas diversas designações das tribos tupi.
Próxima atualização , dia 15 de março de 2011, com publicação das paginas : 138 á 141 na integra , do LIVRO: UBATUBA , ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA , editado em 2005 , dos Autores Jorge Otavio Fonseca e Juan Drouguett.
ESTE LIVRO PODE SER ENCONTADO NA BIBLIOTECA ATHENEU UBATUBENSE , PRAÇA 13 DE MAIO, 52 - CENTRO - UBATUBA...
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