terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ESPECIAL UBATUBA , ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA - 21 ª PARTE

Os Tupinambá que neste espaço recebiam o nome de Tamoio, percorriam praias, costões rochosos, manguezais e lagoas para a obtenção de peixes, moluscos, crustáceos, cágados, botos, pequenos mamíferos terrestres, aves e produtos da mata para garantir a sua sobrevivência. Na preparação dos alimentos realizavam fogueiras, armavam moquéns, assavam e tostavam a carne sobre as brasas. Para a pesca, usavam o arco, a flecha e outras modalidades, pois dominavam a técnica de confeccionar e polir machados de pedra. Fabricavam instrumentos de osso, um exemplo disto eram as pontas de lança e os adornos com que enfeitavam colares e pulseiras, confeccionados com dentes de cação e mamíferos, também as vértebras dos peixes e as conchas tinham esta mesma finalidade.




Os rituais de enterramento dos mortos era uma prática interessante, os cadáveres tinham os membros inferiores fletidos em decúbito lateral e eram colocados em covas rasas, sendo rodeados por grandes seixos que às vezes recobriam o próprio corpo. Provavelmente – explica a pesquisadora –acendiam fogueiras tão próximas do cadáver que acabavam carbonizando-o parcialmente, sem intenção.

Dorath Uchôa tem-se dedicado a fazer um inventário do material coletado no município de Ubatuba no decorrer dos últimos anos, servindo ao projeto arqueológico da USP no sitio do Tenório que foi ocupado por um único grupo. O sitio apresentava sinais de abandono por curtos períodos, observáveis na presença de bolsões, isto é, concentração de restos alimentares.

A presença de grupos ceramistas em Ubatuba está marcada pelo sitio do Itaguá, localizado no bairro do mesmo nome, próximo do aeroporto e definido pela ocupação Tupinambá, que remonta ao período de contato com os primeiros colonizadores europeus. Dorath confirma a passagem deste grupo também pela Ilha Anchieta na qual existem vestígios da mesma índole.

O projeto arqueológico oferecido pela USP ao município de Ubatuba, iniciou-se com as escavações no sitio do Mar Virado, sob a coordenação desta professora que tivemos a oportunidade de conhecer nesta Ilha a convite da Prefeitura. A maior parte do acervo arqueológico do qual estamos falando, encontra-se no Museu de Arte Indígena da Universidade de São Paulo, na cidade Universitária.


2. OS TUPINAMBÁ, TRAÇOS DA FORÇA E DA RESISTÊNCIA DE UMA RAÇA.

A melhor imagem que se tem do Tupinambá é a de José de Anchieta, vindo em missão ao Brasil, no ano de 1553, pela Companhia de Jesus. Anchieta nos oferece uma noção primordial da língua de tronco tupi, dos tipos humanos e dos costumes destes aborígines que habitavam as praias e as selvas do nascente Brasil.

Diante dele estava o Tupinambá, silvícola. Feliz na sombra de seu labirinto - a flora, nos elos de seu cativeiro – a fauna. Canibal da era neolítica, em pleno delírio cromático, em um país de fogo e de sangue. O índio trazia o sexo apenas velado pela tanga, penas amarelas, grinaldas ao cocoruto, manilhas de outras, policromadas, nos pulsos e tornozelos, ramaes de búzios ao pescoço, tembetas de osso, de âmbar ou de quartzo na beiçola, pingentes nas orelhas, adornos de barro cosido na face esburacada. Abaixo dos joelhos, como franjas pendiam as tapacurás vermelhantes e por todo o corpo depilado, sinuosamente, ondeavam lavores negros ou rubros, feitos a tinta de genipapo ou de urucu. Outras vezes, sob a plumagem dos cocares, prendia às nacas uma roda de penas cinzentas, longas penas de ema.

Vagava por brechas, aldeias e rios, à mão esquerda: o arco derrubador de feras, à direita o maracá, evocador de mortos, sepultados nas igaçavas com seus instrumentos de trabalho. Os mais belicosos exibiam a tangapena dos sacrifícios, pendentes da nuca, ou infindáveis colhares de 3000 dentes – os dentes dos inimigos devorados, onças ou homens.

Impulsivo e rancoroso, vivia o selvagem para nadar como os peixes no abismo, girar como os pássaros sobre rochas e boqueirões, lutar como os jaguares no deserto. Nômade corre; homem – marinho flutua; homem – felino retalha. São livres todos os apetites, comuns todas as coisas no regime da tribo. O canibal tem a pele rija do tapir, a dissimulação do tatu, rastejante no subsolo, ou da cobra verde, enroscada nas folhas, o grito de acaponga e o salto do bugio. Instintivamente respira à distância o cheiro da caça, do fogo e do mel. E sua fome não espera, o seu ódio não perdoa.
(Soares, 1587 apud Vieira, 1929:33-34)


Confira no próximo dia  27/02/2011....a  sequência do Capitulo:

2. OS TUPINAMBÁ, TRAÇOS DA FORÇA E DA RESISTÊNCIA DE UMA RAÇA.

Sequencia da pagina  131    , do Livro  UBATUBA, ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA.







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