terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

ESPECIAL UBATUBA , ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA - 19 ª PARTE

OS GUERREIROS DE IPEROIG E A FORÇA DA RAÇA LITORÂNEA. - PARTE FINAL DO CAPITULO


Na nossa abordagem destacaremos o interessantíssimo relato do artilheiro alemão, Hans Staden, cativo pelos Tupinambá em Ubatuba, região de Angra dos Reis e não na cidade que hoje leva esse nome e que é o motivo principal desta obra1. As cartas dos missionários jesuítas como o Padre José de Anchieta, Nóbrega e Navarro, entre outros, são extremamente sugestivas e reveladoras para nossos propósitos, não só dos costumes indígenas como das próprias angústias de seus autores ante o Novo Mundo.

Apesar da falta de concordância das informações destes relatos, as crônicas possuem certa uniformidade no seu conteúdo essencial.



Das fontes secundárias da nossa pesquisa destacaremos a sistematização de Alfred Métraux e Florestan Fernándes, em especial do livro A religião Tupinambá (1925 – 1979 2ª. Ed.) de Métraux que oferece um quadro geral da cosmologia, do xamanismo e da antropofagia que detalharemos com o fim de salientar o traço religioso identitário trazido à tona pelos modernistas preocupados com as origens da cultura brasileira.

Os índios em geral não formavam uma única população nem um único povo, eram vários e diferentes entre si. Cada povo tinha seus usos e costumes variando de acordo com sua filosofia, língua, religião, organização social e uso da tecnologia da época. Tal variabilidade era o resultado de uma experiência acumulada ao longo de milênios. Os sobreviventes são, portanto, depositários do conhecimento e do uso sustentável de seu próprio meio ambiente (Alvim, 1993:12). Esta constatação feita por Maria de Carvalho de Melo e Alvim é importante para entender a distribuição do grupo Tupinambá, “um povo cosmogênico, ao qual estavam reduzidas todas as demais populações primitivas do país”.

Na chegada dos europeus ao Brasil, estes encontraram uma população bastante homogênea, mas – observam os arqueólogos e historiadores – dividida em 2 grandes blocos: ao sul, os Guarani que ocupavam a bacia Paraná – Paraguai e o litoral, desde a Lagoa de Patos até Cananéia no litoral de São Paulo; e os Tupi que dominavam a faixa litorânea desde Iguape até a costa de Ceará. Existem interrupções neste fluxo que não compete aqui citar e sim ressaltar o movimento migratório do sul para o norte, a partir da bacia Paraná – Paraguai, onde os Tupinambá e Guarani teriam se separado.

Alfred Métraux sugere que a dispersão litorânea era um fato recente à época da conquista, dada a identidade cultural entre os vários grupos que ocuparam a costa brasileira. Para este antropólogo francês reconhecido no mundo inteiro, os Tupinambá eram uma das tribos primitivas mais importantes do Brasil no século XVI e XVII. Assim o expressa em um trecho de seus escritos:

Aos Tupinambá estavam afiliados quase todos os povos aborígines do litoral. Os Tamoio da costa entre a bacia Formosa e Angra dos Reis, os Taminó ou Temiminó, do espírito Santo, da margem esquerda do baixo Paraíba e sul de Macuco; os Tupiniquin, localizados no trecho que vai das imediações de Vitória a Camamu, de onde migraram para as cabeceiras do Tietê; os Caeté, que viviam entre o São Francisco e Itamaracá; os Trabajara ou Tobajara, que imperavam no território encravado entre os limites setentrionais da extinta capitania de Itamaracá e o rio Paraíba, de onde se transportaram para a serra de Ibiapaba e o Maranhão; os Petiguara, ou Potiguara ou ainda Pitiguara, da região do rio Jaguaribe e os Guajajajara do vale Pindaré. Dizia Varnhagen que, se alguém perguntasse a um índio a que “raça” pertencia, fosse esse índio do Maranhão ou do Pare, da Baia ou de Rio de Janeiro, a resposta era invariável: índio Tupinambá.

(Métraux, 1979: XVIII)


1 Neste sentido sustentamos a tese do pesquisador e historiador de Ubatuba, Edson da Silva, que refuta a atribuição da permanência de Hans Staden na cidade de Ubatuba, haja vista que o lugar referido fazia parte de um território localizado em Angra dos Reis e não na conhecida Aldeia de Iperoig. O equívoco e a imprecisão se devem a leituras mediadas e comprometidas com o imediatismo da associação.



Proximo capitulo - o 20 º   VAMOS VER :



1. OS PRIMÓRDIOS DE UBATUBA

10/02/2011


Nenhum comentário: