Renato Teixeira recebeu a nossa equipe para um bate-papo descontraído, nas agradáveis instalações do Projeto Tamar de Ubatuba, local com o qual revelou se identificar, por admirar o trabalho do projeto.
Logo no início da conversa, Renato já demonstrou disposição e orgulho em falar sobre suas origens ubatubenses. Afinal, foi onde cresceu e recebeu a base cultural para sua carreira, “quando tomei contato com a música dos meus antepassados, vi que a minha música é bem parecida, é uma música essencialmente “ubatubana””, revelou.
As raízes de Renato são tão misturadas com a história de Ubatuba que, falar com o cantor é quase como ter uma aula sobre a nossa própria história. Em sua família, estão diversos personagens e personalidades que, de alguma forma, participaram do crescimento da cidade. Como é o caso de sua avó, Mariquinha, que foi a pessoa a ceder o terreno para a construção da Santa Casa de Ubatuba. Ou o caso de seu avô materno, Jango Teixeira, que participou da organização para a inauguração do obelisco da Praça da Matriz. E até mesmo seu avô paterno, Theodorico de Oliveira, professor e intelectual da época, homenageado, sendo, atualmente, o nome de uma praça, no centro da cidade.
O cantor relatou, com entusiasmo, as lembranças da época vivida em terras caiçaras. E foi enfático ao definir Ubatuba como uma fase especial em sua vida, lugar onde passou alguns de seus momentos mais felizes. Como exemplo, lembrou-se das vezes em que ficava remando, a bordo de uma pequena canoa, pelo Rio da Barra, dando voltas em torno da ilha, hoje conhecida como Barra dos Pescadores: “aquilo era um paraíso. A minha infância, nem se tivesse sido na Disney, teria sido melhor”, contou.
Muito ligado à cultura da época, Renato comentou, com saudades, sobre o costume de fazer máscaras, no Carnaval, fato que foi marcante em sua infância: “você pegava o barro, fazia uma cara e punha pra secar, depois, molhava o papel e ia botando em cima, ai quando secava, tirava e pronto, já tinha a máscara. E no Carnaval, tinha uns caras, como o Chico Curruira, que faziam máscaras lindíssimas”, explicou.
Além das máscaras, Renato também fez questão de se referir à tradição do Boi de Pano e, segundo ele, o boi de Ubatuba era o melhor de todos. Ele o descreveu como um boi assustador, mas sem “frescuras”. Algo genial, para o universo infantil: “o boi vinha dançando pelas ruas e, de repente, baixava, aí, o dono da casa, vinha com um copo de pinga, enfiava pelo buraco, ali onde o cara fica olhando, tirava a mão e, dali a pouco, o copo vinha vazio. O boi já saia meio dançando, meio tonto pela rua. Isso era uma grande festa”, diz.
Já sobre suas ligações com a música, é inegável dizer que vieram de berço. Por sua família, pelas contas de Renato, já passaram cerca de 80 músicos.
E foi no antigo teatro de Ubatuba, durante uma apresentação musical, que seus pais se conheceram. Ela (a mãe de Renato), era a cantora da noite. E a tradição familiar, continua passando entre as gerações, exemplo disso é o talento de Chico Teixeira e João Lavraz, filhos de Renato, que, hoje, se apresentam ao lado do pai. Fato que torna os shows do cantor ainda mais emocionantes e especiais.
Apesar de tantos artistas na família, Renato conta que não teve facilidade em encontrar um que estivesse disposto a ensinar a arte: “com essa família tão cheia de músicos, eu sempre pedia a alguém que me ensinasse e como ninguém ensinava, resolvi aprender sozinho. E com nove anos já estava compondo”, revelou.
Questionado sobre Ubatuba, Renato se referiu, com alegria, à beleza da cidade. “Aqui, as praias são lindas, uma mais bonita que a outra! Você pode escolher o tipo de areia, o tipo de onda, até o tipo de vegetação.” O cantor revela, inclusive, preferir as praias de Ubatuba às de outras regiões do País. “Hoje, conheço praias do Brasil inteiro, mas nem entro. Estou mal acostumado”, explica.
Ao mesmo tempo, Renato lembrou com tristeza do fato, de pouco ter sido feito por aqui, para manter o patrimônio cultural. “Ubatuba é como mulher bonita, o assédio é total. Vem a especulação imobiliária e o comércio, que é devastador. Quase todos os prédios históricos da cidade já foram demolidos e, com eles, parte da nossa história”, comentou.
Os prédios, infelizmente, se foram, mas ainda temos a sorte de termos um patrimônio como Renato Teixeira, que pode nos presentear com relatos de uma vida em Ubatuba, cheia de histórias e causos, dotados de uma riqueza cultural surpreendente. Se somarmos tudo o que ele tem pra contar, certamente daria um excelente livro sobre Ubatuba. Fica a ideia: quem sabe, Renato?
FONTE : www.ubatubaemrevista.com.br
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