3. O DIA A DIA DE UBATUBA, DO NASCER AO POR DO SOL..........Continuação
CAPITULO II - OS GUERREIROS DE IPEROIG E A FORÇA DA RAÇA LITORÂNEA. - 1 ª Parte
A inexistência de infra-estrutura adequada foi responsável em parte, pela desorganização e precariedade que se encontra a pesca em Ubatuba, além do baixo consumo de pescado na capital paulista, devido ao preço elevado, comercialização do produto e hábitos de consumo. Com o advento do turismo houve uma marginalização da comunidade caiçara da região, afastando-a de seu ambiente natural de trabalho: o mar. Antônio Carlos Diegues expressa com propriedade esta realidade do litoral brasileiro no livro Ilhas e Mares – simbolismo e imaginário (1998).
O fenômeno da cultura de massas comprometeu o equilíbrio ecológico e psicológico do litoral de Ubatuba, especialmente na considerada “alta temporada” provocando o chamado Turismo de Massa: o aumento das pessoas que chegam, a capacidade de hospedagem, os meios de transportes, na entrada de dinheiro ou qualquer outro critério de avaliação do crescimento, não significou o aumento de propriedade. Encima deste último objetivo deveria estar concentrado o esforço de desenvolvimento do município, uma vez que é necessária a correção de um erro histórico: a desapropriação e o desaparecimento da cultura local. Um projeto de turismo ao se propor como auto-sustentável e ecológico deve visar a melhoria do bem estar da população local, sob a forma de lucros mais elevados, empregabilidade, instalações sociais e culturais aprimoradas e moradias em melhores condições.
Caberia promover uma grande diversidade econômica na região turística de Ubatuba que faça crescer a pesca, a silvicultura, as artes e ofícios e a pequena indústria. Mas, sobretudo, a conservação e o poder sobre a terra, a decisão soberana do habitante local sobre a mesma no exercício de sua cidadania. Os serviços turísticos costumam maquilar o caráter local, agindo de acordo com os interesses do cliente, adaptando a oferta turística aos gostos pretensamente interpretados dos turistas. A atividade pesqueira, por exemplo, tanto na escala artesanal como industrial, serve como um modelo de conhecimento e funcionamento do ecossistema, dos instrumentos de produção e das relações sociais e econômicas, pois compromete a preservação do meio ambiente, a obtenção de renda, a distribuição eqüitativa da mesma e a manutenção das tradições. O reconhecimento inequívoco da cultura nativa e sua integração sistemática com o turismo são essenciais para a integração do habitante local nessa empresa de desenvolvimento de Ubatuba.
Os habitantes de Ubatuba podem ter mais consciência de seu próprio valor uma vez que maior é o acesso às riquezas de sua própria cultura, primeiro e último objetivo da formação universitária. Cabe à administração e a política melhorar o mercado e promover a imagem de uma cidade consciente de sua vocação turística e de sua tradição marítima.
Capítulo II
OS GUERREIROS DE IPEROIG E A FORÇA DA RAÇA LITORÂNEA.
Baseados em estudos recentes de arqueologia, antropologia cultural e história, tentaremos esboçar neste capítulo, uma imagem Tupinambá, isto é, uma representação dos primeiros habitantes da Aldeia de Iperoig que ficaram vivos na memória caiçara do litoral ubatubense1. O intuito é recriar simbolicamente essa memória indígena a partir de documentos históricos, crônicas e relatos. A intenção consiste em sistematizar alguns conhecimentos que se têm deste grupo indígena extinto e que outrora ofereceu a maior resistência ao processo de “colonização portuguesa”.
A recuperação da memória é um direito social que desejamos reivindicar neste livro, com o fim de contar uma história, não tão canônica nem oficial, revestida, se é possível, da sensibilidade humana necessária para ressaltar o valor religioso e social que coloca os Tupinambá muito além do suposto primitivismo do traço antropofágico, mas como precursores de uma identidade de seres humanos que lutaram pelo direito de preservação familiar e do ecossistema do qual faziam parte2.
A memória indígena é transmitida fundamentalmente pela cultura oral, portanto há falta de registro escrito, uma fragilidade material da civilização Tupinambá. A maior parte dos livros de história indígena iniciam seus relatos nos anos do “descobrimento”, o que nos coloca frente à dificuldade de pensar a sociedade Tupinambá antes do “encontro” com o “colonizador”. Para suprir de certa forma esta brecha, a Arqueologia, ciência que ajuda a reconstruir e identificar as primeiras formas de estabelecimento desta raça no litoral de São Paulo, nos ajudará a decifrar, em parte, o enigma dessa belíssima saga Tupinambá que consistiu em enfrentar o inimigo da integração familiar e ambiental, inimigo cujos interesses se confundiam com a própria empresa da viagem.
O que se sabe dos Tupinambá, habitantes da Aldeia de Iperoig e do resto do território costeiro, resulta de um número limitado de fontes primárias: crônicas de viagens, relatos de colonizadores, cartas e informações de missionários que aqui vinham com o intuito de evangelizar aos índios. A maioria desses registros datam da segunda metade do século XVI e dos primeiros anos do século seguinte. Autores portugueses como: Cardim, Gandavo, Soares de Sousa são objetivos e breves nos seus escritos ; contrastando com franceses como: Léry, Thevet, Abbenville e Évreux, mais detalhistas e prolixos nas suas descrições.
1 Etimologicamente a palavra Tupinambá quer dizer, segundo Rodolfo Garcia apud o prefácio de Estevão Pinto in: Métraux, 1979: XVIII: “agente atinente ou aderente ao chefe dos pais”, “os pais principais’ ou” os descendentes dos fundadores da região”. A referência aos ancestrais da tribo denota uma preocupação com os antepassados civilizadores desta raça que ocupava quase toda a faixa litorânea do Brasil.
2 Ver a primeira nota deste livro que faz referência ao uso do plural na língua tupi. A partir deste capítulo pedimos licença para apropriarmos desta variante que acentua o espírito de coletividade destes indígenas de raiz tupi.
PRÓXIMO PARTE ,A 19 ª , SERÁ PUBLICADA NO DIA 01 DE FEVEREIRO DE 2011...Final pagina 121 +paginas 122 e 123...
Texto integrante do livro UBATUBA , ESPAÇO, MEMORIA E CULTURA, de Jorge Otavio Fonseca e Juan Drouguett.....Ed. 2005 - O mesmo pode encontrado na Biblioteca Municipal de Ubatuba - praça 13 de Maio, 52 - centro.
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