IGREJA MATRIZ
A antiga Igreja Matriz de Ubatuba, sob a invocação de Nossa Senhora ad Conceição, localizava-se onde hoje se encontra o cruzamento das ruas Conceição e salvador Correa, correspondendo aos fundos de onde se localizava o antigo prédio da Câmara Municipal. Antes do calçamento daquelas ruas, percebiam-se alinhadas ao rés do chão, as grandes lajes que serviram de alicerces aa referida Igreja.
Como aquele templo devia ser de reduzidas dimensões e encontrar-se em mau estado de conservação, providenciou-se a construção de uma nova Matriz – a atual – e em melhor localização, maiores dimensões e e nova arquitetura, o que teria tido início – acreditamos – na segunda metade do século XVIII, em 118 de novembro de 1798, a Câmara de São Sebastião, considerando achar-se muito maltratada a sua igreja, reuniu – se.
“...convocando para isso não só os principais da Vila, como os mais abastados lavradores, a fim de concordarem...sobre a futura de uma nova Igreja Matriz em nossa Vila...visto que a que ainda existe estava em estado deplorável, que se tornava necessário uma providencia qualquer ( Arquivo do Estado).
Dessa reunião foi lavrado um termo em que se taxava a contribuição com que cada um deveria concorrer, até a conclusão das obras, seguindo –se assim o exemplo de outras vilas, que para tal fim vinham
“...contando com a voluntária e livre concordata do povo, se serem para isso constrangidos “
E continuava aquele termo:
“ Dessa maneira se está continuando a de Ubatuba “
Assim sendo, está claro que, se em 1798 a Câmara de São Sebastião pretendia iniciar a construção de uma nova Matriz naquela Vila, fazia constar em seus assentamentos que naquela data já estava em andamento aa construção da Matriz de Ubatuba.
Esse referencia era corroborada pelo Ofício datado de 9 de março de 1790, do Secretário do Governo da Província, dirigido em nome deste ao capitão – Mor de Ubatuba, ordenando
“...que Vos Mecê continue a fazer a cobrança do subsidio para a construção da nova Matriz, pelo modo que lhe ordenou o Marechal Governador Interino, que depois lhe intimou a construção, o Dr. Ouvidor da Comarca, e que ultimamente S. Excia. Já aprovou ...” (Documentos Interessantes – Volume XLVI – pagina 68 ).
Alguns anos depois, possivelmente em 1816, aquela mesma Câmara de São Sebastião contratou o mestre de obras Manoel Alves de Abreu, se arrecadou contribuições para iniciar –se a construção da nova Matriz de São Sebastião, mas o mestre Manoel Alves de Abreui teria sido um grande salafrário, promovendo grandes trapaças, receia numerário adiantado sem compensá-lo depois com obras correspondentes , vendia material destinado as mesmas, fazendo tantas e tamanhas falcatruas, que, em conseqüência, em 18l6 foi sustada a construção da Matriz de São Sebastião.
A 11 de novembro de 18l6, a Câmara de São Sebastião participava ao capitão General presidente da província os fatos ocorridos em 1815 com o célebre contratante Manoel Alves de Abreu, apontando-o como executor dos mesmo serviços na Matriz de Ubatuba, pois
“...Estando a construção em andamento, aconteceu desmoronar-se por falta de segurança.
Como se pode notar, a mesma improbidade do empreiteiro Alves de Abreu, assinalada nas obras de São Sebastião, também aconteceu aqui na Vila de Ubatuba., concluindo-se portanto, que outro teria sido o mestre de obras que levou a cabo a sua construção.
Quanto a de São Sebastião, a idéia de uma nova Igreja foi abandonada e a primitiva igreja seiscentista, construída no alvorecer daquela Vila, foi reconstruída em 1816, pelo Vigário Bernardo da Pureza Claraval, que, revoltado teve que repudiar a proposta do mestre de obras Abreu, que acenava uma proposta de 200 mil reis ao padre , para aceita-lo de volta, mas o padre que tinha Pureza no nome e nos sentimentos escorraçou –o energicamente.
Como dissemos anteriormente , a construção da Igreja Matriz de Ubatuba teria tido início na segunda metade do Século XVIII, e suas obras vem se arrastando no decorrer do tempo.
.......Num livro datado de 10 de janeiro de 1835, pede –se aos representantes da Província atende-se as necessidade de fazer uma exposição das indispensáveis obras . a ereção ou mesmo a reedificação da Matriz, da qual só existe a Capela – Mor, a reconstrução de suas paredes, as quais estão a desabar...
A construção de um cemitério, onde sejam sepultados os mortos, que por falta de um local adequado, são enterrados no corpo (arredor) da Igreja Matriz, cujo solo arenoso se embebe da águia da chuva e quando lhe sucede o sol, , esta o povo , durante a Santa Missa, sentido o odor de partículas pútridas e asqueirosas. ....
( Registro de Correspondência da Câmara Municipal – fls. 174 verso.
Nesse sentido, em abaixo assinado, apelaram para a Câmara que, por sua vez, em 20 de junho de 11834, encaminhando esse documento ao Governo da Província, assim se manifestou :
...A Câmara Municipal desta Vila, a quem foi presente o requerimento incluso do abaixo assinado solicitando-lhe providências sobre a concessão de uma loteria em favor da reedificação da Matriz......
Mais tarde, encontramos a Lei n º 27, de 8 de março de 11842, estabelecendo o seguinte:
....lei n º 27, de 8 de março de 1842. O Barão de Mont ´Alegre, Presidente da província de São Paulo, etc.
Art. 1.º Fica concedida à Irmandade do Sr. Bom Jesus da Vila de Iguape, uma loteria anual de 10 contos de réis, por espaço de 10 anos; e outra de cento e vinte contos de reis por espaço de dois anos, em beneficio da Igreja de Matriz....
Acreditamos, porém, que surgiram dificuldades ao atendimento desse plano, estabelecido pela Secretaria do Governo, o qual pretendia vender os bilhetes ao preço de 20$000 (vinte mil reis) cada um, importância relativamente grande naquele tempo, não sendo fácil para a população adquirir o bilhetes.
.....Lei n º 11, de 118 de setembro de 1848. Domiciano leite Ribeiro, Presidente da Província de São Paulo, etc..
Art. Único: _ As duas loterias, no valor de cento e vinte contos de reis, concedidas a beneficio da Igreja Matriz da Vila de Ubatuba, ficam divididas em 10 loterias na forma do plano junto e poderão ser extraídas conjuntamente com loterias do rio de Janeiro...
Com a divisão da loteria em 10 loterias, com um valor menor do preço de cada bilhete, os prêmios também foram reduzidos, animou os mentores das obras a promoveram extração da mesma, começando por mandar imprimir os necessários bilhetes.
Mas não vingaram, nem o primeiro e nem o segundo plano. . Em 1 º de maio de
1850, o tesoureiro desta loteria, Antonio Francisco de Gouveia e Castro, alegando ter mandado imprimir, na Lithografhia Ludwig & Briggs do Rio de Janeiro, 6.000 bilhetes, com autorização da Câmara, e, tendo para isso, despendido a quantia de quarenta e seis mil réis, mais cinco mil réis com anúncio para a venda desses bilhetes, num montante de cinqüenta e um mil réis, juntando a documentação comprobatória, reclamava o reembolso dessa importância, pois
“...essas loterias ficaram inutilizadas, pelos motivos que V. Sas. Sabem...”
As obras prosseguiram em moroso andamento, enfrentando as dificuldades da época e a grandiosidade do templo.
As primeiras notícias que dele temos e que citamos anteriormente dizem que só havia a Capela – Mor e que as paredes da nave estavam ruinosas, descobertas, prestes a cair....
Em 1866 ,as obras estariam dando complemento a fachada do templo, pois no alto da porta principal, num gradil de ferro esta assinalada aquela data.
Atualmente a Igreja só tem uma torre. Uma apenas, que lhe deu as características de inacabada, como deu a Torre de Pizza a de inclinação.
Por muito tempo procuraram saber quando teria sido construída a torre da Igreja, até que através de interessante de um velho amigo, chegamos a conclusão de quando isso aconteceu.
Disse o nosso informante que, na infância, ele recebia aulas de Dona. Maria Senhorinha, em cuja escola não havia relógio, mas de onde se avistava a torre em construção. A tarde, as tantas horas, da escola todas as vistas – de mestra e alunas, furtivamente se voltavam para lá, onde operários, sob a direção do mestre –pedreiro Chico dos Passos, trabalhavam suspensos num caixão, que funcionava à guisa dos elevadores de hoje.
Quando o caixão descia de vez e com eles os trabalhadores de vez e com eles trabalhadores, dando por finda a tarefa do dia, eram precisamente cinco horas.
Dona Senhorinha dispensava a classe. Isso, garantiu nosso informante, se passou entre 1889 e 1890.
Concluída a torre, lá do alto, junto dela já estavam instalado e funcionamento um relógio de ampla dimensões, visto à distância, que por muitos anos marcou a hora oficial da cidade.
Na noite de quarta-feira de trevas de 190l a torre foi atingida por um raio, quando violenta tempestade desencadeou-se sobre a cidade. Vento, chuva e trovoada. Caiu um raio, o qual causou uma larga fenda do alto da Torre até o nível do solo. Em 1976, aconteceu esse fenômeno em menores proporções, danificando apenas parte da cimalha e uma das janelas da torre. Em conseqüência, a Igreja ganhou um pára-raios.
Até 1904, a igreja não possuía bancos. As mulheres agrupavam-se no centro da nave e assistiam os ofícios religiosos, ora ajoelhadas, oras em pé e muitas delas , mas cansadas ou mais comodistas sentavam-se no chão, aliviando as pernas.
Naquele ano de 1904, foi o festeiro do Divino Espírito Santo o Coronel Francisco Gonçalves Pereira, ex-político influente, rico comerciante, ex-deputado provincial, afinal um dos vultos de maior prestigio e projeção da cidade, fazendo com que tudo corresse bem para com a festa que ele organizava, fazendo com que a mesma acontecesse em tamanho esplendor, o Coronel mandou fazer os primeiros bancos, é verdade que muito simples, sem encosto, mas, de esmerado acabamento, construído de pinho de Riga, madeira que ainda era possível empregar-se aqui, nas construções daquele tempo.
Ainda em promoção do Padre Reale, em 1908 foi adquirido um magnífico harmônio alemão, que por muitos anos serviu a Igreja. Algum tempo depois , a paróquia sem vigário, a Igreja permanecendo fechada, a umidade e ação destruidora do tempo se fizeram sentir e o harmônio esboroou-se , apoderecido e corroído pelo cupim.
UBATUBA DOCUMENTARIO
De Washington de Oliveira
Editora do Escritor Ltda.
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São Paulo -Capital
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