sábado, 27 de novembro de 2010

A Paz de Iperoig: Um breve período de paz antecede a traição 2 ª PARTE

Ganhar a confiança dos índios era primordial para o acordo
Ganhar a confiança dos índios era primordial para o acordo



As condições foram impostas por Aimberé, desconfiado das intenções portuguesas. Cunhambebe resolve partir para São Vicente acompanhado de Nóbrega para certificar-se do cumprimento das reivindicações feitas. Anchieta como refém cativa a todos passando a celebrar missas diárias ensinando hinos em tupi às crianças. Os índios se impressionavam, pois os pássaros, pousavam no ombro do sacerdote. Uma conversa foi reproduzida por Antonio Torres, quando cativos e temendo sobre suas vidas entre os Tamoio. Nóbrega havia aceitado as condições impostas pelos índios como um modo de atrasar a ação de ambas as partes. Nestas negociações Pindabuçu chegou com fome de matar os padres, que fugiram para uma igreja de palha. 

O líder indígena e Anchieta por alguns minutos se olharam. O beato tocou nos ombros do chefe e lembrou-o das glórias da tribo e que estavam ali para negociar a paz e não promover mais sangue e que ambos deveriam ter gestos nobres ante o que acontecia. Pindabuçu cede ao apelo de Anchieta. Aimberé retorna para Uruçumirim, lá sua filha Potira havia dado a luz a seu neto. Ele aproveitou para consultar alguns franceses sobre a proposta dos padres. Na volta a Iperoig, Aimberé está à frente de 40 canoas com alguns franceses a bordo.

Araraí, da tribo dos Guaianases, próximo do colégio dos jesuítas em Piratininga, queria a continuidade da guerra. Ouros chefes também queriam a guerra, mas também queriam viver, mas com a garantia de serem respeitados em suas terras.
Aimberé se mostrou compreensivo e entendeu a necessidade da viagem e decide partir junto. Ele enfrentou com bravura as negociações em São Vicente e em Piratininga. Suas conclusões fizeram os brancos a ceder aos pedidos e em troca, isto é, para selar o acordo de paz, queriam a volta do jesuíta que tinha ficado em Iperoig. Aimberé desconfia dos “pêros”, discussões acalorados transformam as negociações em caos. O jesuíta Luiz de Grã intervém e sugere que um dos padres fosse a Piratininga e outro continuasse em Iperoig até que todas as partes se entendam. Desta forma Manuel da Nóbrega foi escolhido para a última etapa de negociações. Para Piratininga, Aimberé levou seu jovem cunhado Parabuçu e um chefe Aimoré muito respeitado, Araken. 

A falta de noticias deixaram os confederados agitados em Iperoig, aumentando as hostilidades entre os Tamoio e o jesuíta, que não foram mortos por intervenção de Cunhambebe e Coaquira. Nóbrega foi então levado para o centro das negociações. De São Vicente desembarcou em Bertioga (Buriquioca), de lá foi a Piratininga.

Nóbrega que estava doente se recuperou e selou o acordo de paz entre Aimberé e as autoridades portuguesas. Diante do acordo as autoridades portuguesas mandaram expedições de soldados às fazendas para libertar os cativos, todos acompanhados por Aimberé. Na realidade Aimberé estava à procura do amor de sua vida, a jovem Iguaçu, que não foi encontrada na fazenda de Eliodoro Eoban. Triste e desconsolado Aimberé retorna a Iperoig, lá viu obras realizadas por Anchieta como agricultura, pecuária, alimentação. Com isto ganhou respeito da tribo de Coaquira. 

De volta a sua aldeia, Aimberé é recebido com festa, mas festa mesmo foi quando descobriu que Potira o aguardava, ela havia sido resgatada por seus amigos, capturando seus raptores, antes que ele tivesse chegado à fazenda de Eliodoro. Anchieta volta a São Vicente com a escolta de nada mais nada menos que Cunhambebe, chefe da Confederação mais famosa das Américas. Cunhambebe mandou soltar todos os cativos nas aldeias e retornando a sua aldeia fez um balanço positivo do Tratado da Paz de Iperoig, em 14 de setembro de 1563. 

Um breve período de paz aconteceu após a “assinatura” do tratado. Tudo que é bom dura pouco e um ano depois das negociações os portugueses romperam o acordo, voltando a sujeitar os índios capturados a trabalhos escravos, com isto a guerra começou onde tinha acabado um ano antes, em Iperoig. Lá houve a invasão das duas aldeias de Coaquira, que foi morto. Depois destruíram as de Araraí. 

Os portugueses não só escravizavam para os engenhos, mas também para as expedições de ouro. 
Anchieta por determinação da Coroa muda seus interesses, e inflama o governador geral do Brasil, Men de Sá na sua empreitada de retomar seus interesses patrimoniais. O governador cria o Comando das Operações de Extermínio dos Confederados, de forma a liquidar o poder que os índios haviam conquistados de forma diplomática. 

No dia 8 de janeiro de 1567, com o reforço de três galeões vindos de Portugal e dois navios de guerra bem armados, Men de Sá dá inicio a chacina. A matança foi encerrada no dia 20 de janeiro do mesmo ano, dando por fim a cruzada contra os índios. Ao que se sabe, os Tamoio nunca cederam à quebra do tratado, mantiveram-se fiéis ao que tinha sido acordado com os “pêros” e aos “mairs” - franceses que mantinham um melhor relacionamento com os índios do litoral. 
Men de Sá, que solicitou a intervenção de um tratado, agora massacrou os índios que a muito tempo foram considerados os “Filhos da Terra”, que eram homens destemidos, indomáveis na guerra, mas de palavra, sensíveis às negociações, compreensivos no trato dos acordos. 

O massacre é pouco divulgado, mas quem procura saber da história descobre a traição dos “pêros”. O Tratado de Paz passou a figurar na História do Brasil como a “Paz de Iperoig”, o primeiro tratado de Paz das Américas e o primeiro trabalho de acordo concluídos em terras americanas, que assim pode ser entendida na iniciativa de seu destino histórico: marco inicial da generosa política brasileira de resolver pendências através de tratados, na mesa, no caso especifico - na Óca das conferências.

EZEQUIEL DOS SANTOS


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