segunda-feira, 22 de novembro de 2010

LENDAS UBATUBENSES....Lenda do Corcovado








Meia noite! Seria meia noite, quando uma exclamação quase de alívio partiu daqueles peitos ofegantes:
- Ei-lo!
De fato, pela rocha nua, lentamente, arrastava-se frei Bartolomeu, pelo mesmo trajeto pelo qual havia subido. Devia estar cansado. De vez em quando parava arrumando o hábito marrom, sustendo na cintura o frouxo cordão branco, e parecendo levar por vezes aos lábios o níveo crucifixo de marfim que lhe pendia ao peito. Um vago clarão de lua jorrou sobre a monástica figura denunciando um livor funéreo em suas faces tristes e descamadas. Correram todos para recebê-lo, mas...





- Onde está frei Bartolomeu?!, perguntaram-se com os olhos. Não mais o viram. Esperaram-no mais algum tempo, porém o frade não desceu. Um deles gritou e o eco respondeu lá no fundo, nas gargantas sombrias da cordilheira.
Logo depois um gemido horrível partiu, não sabem de onde, envolvendo a floresta inteira!
Um frio de morte, uma sensação ignota agitou as carnes daqueles homens. Sem articular palavra, lívidos, completamente desnorteados, abandonaram em disparada aquele sítio maldito, ouvindo o eco sumir longe, muito longe, na imensidão da noite!
* * *
Hoje ainda, à meia noite, quem se for postar ao pé, da misteriosa elevação verá a figura do venerável frei Bartolomeu descer lentamente pela rocha nua, sem nunca, porém, chegar à base.
* * *
Dizem que o Corcovado é encantado, ocultando uma rica mina de ouro pertencente a um gênio que a defende dos homens. Ouro lá existe, e vou provar com outro fato verdadeiro, como verdadeiro é o que acabo de contar.


Extraído do livro "Ubatuba - Lendas & Outras Estórias"
de Washington de Oliveira ("seo" Filhinho)
conforme autorização do autor

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