2. CADEIA VELHA - MUSEU HISTÓRICO
Localização
O edifício da antiga Cadeia Velha e atual Museu Histórico de Ubatuba está localizado bem no centro da cidade, na Praça Nóbrega, próximo ao Municipal.
Horário de funcionamento
De terça à sexta-feira, das 9 às 12 h, e das 13 às 17 h. Aos sábados, das 11 às 17h.
A Cadeia Velha, hoje museu histórico de Ubatuba homenageia a um dos mais importantes historiadores da cidade, Washington de Oliveira1. Por meio da Lei 2092 de 16/10/2001, na gestão do Prefeito Paulo Ramos, modifica-se o nome do museu em homenagem a este insigne escritor. Foi a primeira cadeia do município definida como um edifício público cujo objetivo é proteger a população local dos transgressores da lei que impedem o progresso e a evolução ética dos seus moradores.
O prédio da Cadeia Velha de Ubatuba guarda momentos importantes da história cívica da cidade, transformando-o em um patrimônio histórico cultural de importante grandeza a ser preservado.
Segundo as palavras de Washington de Oliveira, os elementos básicos para a promoção de uma pequena aldeia à categoria de Vila são: o recenseamento populacional, a construção de uma câmara, de uma cadeia e de uma Igreja. Tais quesitos transformaram a antiga Aldeia de Iperoig em Vila no ano de 1637, pelo governador geral do Rio de Janeiro, Salvador Corrêa de Sá e Benevides, denominado-a “Vila Nova da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba”.
Assim, a história da Cadeia Velha iniciou-se com transformações importantes na utilização do seu espaço desde o primeiro momento, era para ser uma estação ferroviária que nunca foi utilizada.
A Cadeia Velha foi considerada a primeira construção de linhas modernas na cidade de Ubatuba, nos primórdios do século XX, iniciando-se a sua construção em 1901 e finalizado em 1902. O projeto de reforma foi realizado por Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, que além de engenheiro era militar, jornalista, escritor e autor de Os Sertões (1902), marco da literatura brasileira. A obra de construção foi executada pelo português Silva - primeiro nome desconhecido- construtor e por Manuel Sapão, mestre pedreiro.
Funcionando nas primeiras décadas do século XX, a Cadeia Velha alojava aqueles que transgrediam “as leis e a ordem” do local, caiçaras bêbados, brigões e presos que eram depois levados ao presídio da Ilha Anchieta. A Cadeia Velha funcionou até o ano de 1972, transferindo-se para uma nova sede, mais ampla, à Rua Professor Thomaz Galhardo devido ao aumento de delinqüentes e detentos no decorrer do progresso da cidade.
Novamente, a Cadeia Velha passa por mais uma reforma deixando de ser uma sede para cárceres, passando suas instalações a serem ocupados por órgãos e instituições como o Centro Municipal de Cultura, a Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Turismo, entre os anos de 1977 e 1982. Pela Companhia Estadual de Tratamento de Esgoto e Saneamento Básico – SETESB, entre 1984 a 2000. Depois e até os dias de hoje passou então a sediar as dependências do atual Museu Histórico “Washington de Oliveira”.
Todo museu serve para manter viva a memória de uma cultura. Assim o atual museu, através de um acervo de peças indígenas, do período da colonização portuguesa, de imigração francesa e holandesa e do surgimento da cultura autóctone caiçara, além de apresentar objetos de produção artística, é um referencial de preservação da história local.
O primeiro Museu Regional de Ubatuba foi fundado pelo então prefeito Francisco Matarazzo Sobrinho, através do Decreto 25 de 23/11/1966. O historiador da época o senhor Paulo Camilher Florençano, e outros ilustres cidadãos de Ubatuba como Mello Garcia Migliani, Alcir José Quaglio, Luiz Ernesto Kawall e o artista plástico José Vicente Dória da Motta Macedo foram os gestores deste museu, montado nos porões da Câmara Municipal no ano de 1968.
Em 1987, as instalações do museu precisaram mudar de sede devido a má conservação do acervo museológico, o local era muito úmido gerando fungos, bactérias, cupins, comprometendo assim todo o acervo. Desta forma, o museu passou a ser abrigado no andar térreo do Sobradão do Porto – Fundação de Arte e Cultural de Ubatuba – FUNDART, um patrimônio histórico tombado pela superintendência do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN ou IPHAN e pelo CONDEPHAAT.
Não oficialmente, o museu passou a chamar-se Museu Hans Staden. Sua visitação foi suspensa depois de um ano por problemas, novamente estruturais do seu acervo e do próprio edifício da FUNDART que teve a sua restauração parada por motivos políticos e administrativosl por problemas, novamente, 1 do governo federal da época, o que ocasionou a falta de verba.
Desde 24 de Julho de 2001, a cidade de Ubatuba tem seu museu histórico, montado e reestruturado na atual sede: a Cadeia Velha que passou definitivamente a sediar o Museu Histórico Washington de Oliveira.
Em seu acervo pré-colonial conserva vestígios do início da colonização no Brasil como a Confederação dos Tamoios e a Paz de Iperoig, que estaremos descrevendo detalhadamente no próximo capítulo deste livro. Este mesmo acervo, contém importantes peças arqueológicas dos sítios do Itaguá e Tenório, mostrando traços do antigo caiçara, costumes como a pesca, utensílios, objetos peculiares da época. A Fundação da Vila Nova da Exaltação à Santa Cruz do Salvador de Ubatuba tem suas referências históricas lá inscritas, e também o museu mostra a história dos antigos fazendeiros, dos ciclos do café e da cana-de-açúcar, utensílios e vestígios das Ruínas da Lagoinha, documentos do início da imprensa no final do século XIX.
Homenagens a várias figuras importantes da história de Ubatuba são preservadas como: Manuel Baltazar de Cunha Fortes, Félix Guisard, Gastão Madeira, Idalina Graça, “Ciccillo” Matarazzo, entre outros, o acervo do historiador Washington de Oliveira é conservado na sua integridade. Foram pessoas estas que ajudaram a construir a história da cidade através da sua atuação que trouxe benefícios ao desenvolvimento econômico, político, social e artístico de Ubatuba.
Infelizmente, ainda nos dias de hoje, o Museu de Ubatuba passa por problemas de conservação dos seus acervos e do prédio por ser muito antigo. Como já descrito, o acervo museológico sempre se depara com problemas nas dependências que o abrigam e cabe às instâncias do governo e às instituições preocupadas com a cultura empenharem-se no exercício da função de reunir, processar e difundir este importante patrimônio cultural da cidade.
Ressaltamos que um museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos e que está ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento. Por isso, nada mais justo em prol da preservação do patrimônio e da cultura local que a manutenção seja um compromisso de cidadania.
Um museu não é apenas uma instituição estática, parada no tempo, precisa continuamente ser reestruturado, reorganizado, ampliado. É como uma obra que nunca se acaba, um desafio do tempo que perpassa os limites também do espaço a ser modernizado, atualizado, acompanhando assim a evolução da história humana.
Preservar um patrimônio, e acima de tudo, os materiais expostos que representam a vida indígena e caiçara através dos tempos e das ações de civilidade é, sem dúvida, um ato de amor pelo patrimônio cultural de uma nação e de sua história. Uma paixão em materializar, reunir formas do mundo natural ou da cultura material criada pelo homem durante toda uma trajetória histórica sobre o planeta. Uma das funções mais importantes deste museu é a de conservar a produção dos antepassados, estes materiais ampliam potencialmente um enorme campo de atuação e implicam a proteção e se for preciso a restauração de obras originais, assim como a transferência de informação a outros suportes para salvaguardar o conteúdo intelectual. Neste sentido, deveria existir uma série de medidas encaminhadas pelas políticas públicas e a iniciativa privada, para a criação de condições ambientais idôneas para evitar o deterioro progressivo dos materiais e, por outro lado, a intervenção naqueles casos em que a deteriorização se tem produzido. Estas linhas de atuação, preservação e tratamento das obras do museu de Ubatuba apontam para o fim principal desta instituição na preservação da memória do tempo.
3. RUÍNAS DA LAGOINHA
Localização
As Ruínas da Lagoinha estão localizadas ao sul, a 23,9 km do Centro de Ubatuba e a 1 km de estrada de terra à direita do bairro da Lagoinha, próximo ao km 72, da rodovia Rio – Santos, mais especificamente na antiga Fazenda Bom Retiro.
Horário de funcionamento
Como se trata de um atrativo a céu aberto, integrando-se com a natureza local, as Ruínas da Lagoinha estão abertas para visitação daqueles interessados neste tipo de atrativo histórico cultural.
As Ruínas da Lagoinha guardam uma história rica em acontecimentos, de prosperidade, desenvolvimento, riquezas, sofrimento, e acima de tudo, de muita sensibilidade a respeito da luta de interesses. Muitos personagens, figuras e nomes que escreveram suas histórias nas terras deste bairro, hoje, chamado de Lagoinha, remanescentes de uma Ubatuba próspera, lutaram desde o início pelo nobre princípio da sobrevivência no contexto do Brasil colonial. Uma época em que a cidade avançava em direção ao progresso por meio do seu porto, onde negociações de exportação dos produtos como aguardente, açúcar mascavo, milho fumo e outros faziam deste atrativo o palco, não só de Ubatuba como também do Vale do Paraíba.
O precursor nestas terras que abrange toda uma enorme área de matas e praias, incluindo a Maranduba e Sapé foi o engenheiro francês João Agostinho Stevenné. No início do século XIX, criou na Lagoinha um engenho de açúcar e uma grande fazenda modelo, a Fazenda Bom Retiro, com o intuito de ensinar novas técnicas na fabricação do produto e a introdução e propagação de carneiros merinos para a produção de carvão animal. Mas com a evolução de técnicas na área da agricultura a fazenda entra em decadência no ano de 1850.
Um dos mais importantes proprietários destas terras e da Fazenda Bom Retiro, no final do século XIX, foi o bom Capitão Romualdo. Admirado por muitos e, principalmente, por seus escravos negros até a abolição acontecer. Segundo relatos históricos, mesmo depois da abolição da escravatura os ex-escravos ficaram do seu lado por gratidão e amizade, como empregados, até o falecimento do Capitão.
“Solar do Capitão Romualdo”, assim era conhecida a Fazenda Bom Retiro na época de seu maior esplendor. Moravam neste sitio, ele e sua esposa de nome Mariana, não tiveram filhos, talvez por isso, tratavam a todos seus empregados como verdadeiros parentes, sem distinção nenhuma. A humanidade deste fazendeiro era tanta, segundo contam testemunhas, que até nas refeições, seus escravos faziam parte da mesa principal tendo a preocupação de alimentar primeiro as crianças.
Dono de enorme propriedade, o capitão tinha em suas terras grande cultivo de café e cana-de-açúcar. Também exportava os produtos que cultivava e fabricava como o açúcar mascavo e a aguardente. No caso da aguardente, o capitão, segundo relatos, foi o precursor do que viria a ser a primeira fábrica de vidros do Brasil para embalar este produto alcoólico, iniciando a construção da fábrica, no local onde hoje existem 3 pilares da provável construção, este dado não é comprovado nem mesmo pela existência das colunas até hoje levantadas no local2. Infelizmente a história do Solar do bondoso capitão e da prosperidade do local, a Fazenda Bom Retiro, termina com sua morte e a loucura de sua esposa ao não suportar a partida. Com este acontecimento, seus empregados, ex-escravos, amigos e queridos pelo capitão partem abandonando o local.
A Fazenda, esquecida por muitos anos e abandonada ao devir do tempo e da modernidade, hoje se transformou naturalmente em as “Ruínas da Lagoinha”. O antigo engenho e o aqueduto que mantém uma roda d’água fazem parte juntamente de um conjunto arquitetônico: edifício todo construído em base de argila, óleo de animais do mar, areia de praia com pedras simétricas e conchas, suas janelas de formas arredondadas e portas muito grandes, tudo muito criativo da antiga engenharia que sustenta até hoje o lugar.
As ruínas da Lagoinha, hoje tombada como patrimônio histórico pelo CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico do Estado de São Paulo - em 16/12/1985, é um dos principais patrimônios de Ubatuba de grande importância para a preservação da memória nacional. O maior responsável pela restauração e recuperação das ruínas da Lagoinha foi o francês radicado no Brasil há anos, Guy-Christian Collet, em um trabalho árduo de 4 meses e ,sozinho, conseguiu o apoio da Prefeitura local para a restauração do local. Com a atuação da Sociedade Amigos da Lagoinha conseguiu reativar o processo de tombamento que foi efetivamente reconhecida pelo Estado de um grande valor cultural.
É importante ressaltar o presente dado à cidade de Ubatuba pelo casal Jamil Zantut e Banedicta Corrêa Zantut. Uma doação à FUNDART – Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba - do terreno onde estão as ruínas da Fazenda Bom Retiro da Lagoinha. Da mesma forma, se faz também importante ressaltar o drama ocorrido no ano de 1997, quando o terreno das ruínas, quase foi leiloado e vendido, e que o possível comprador poderia ter derrubado a antiga construção. A FUNDART, endividada por falta de recolhimento de INSS da empresa e FGTS de seus funcionários, quase perdeu este importante marco da cultura ubatubense. Mas uma renegociação da dívida entre a nova diretoria da FUNDART e a Prefeitura, pôs fim a este pesadelo e garantiu a manutenção deste cenário histórico - cultural.
1 Anteriormente, quando fundado (Decreto 25 de 23/11/1966), o museu denominou-se primeiramente como Museu Regional de Ubatuba. Em 1970 teve a alteração do nome para Museu Histórico Pedagógico de Ubatuba por Decreto do então Governador Abreu Sodré. Quando já instalado no Sobradão do Porto – FUNDART em 1987, passou a denominar-se não oficialmente como Museu Hans Staden. Fechado a visitação por problemas de manutenção e conservação do espaço e acervo, teve sua reabertura em 2001, e no atual local, na Cadeia Velha, denominando-se pela Lei 2092/2001 pelo prefeito Paulo Ramos em sua primeira gestão, passando a se chamar Museu Histórico “Washington de Oliveira”.
2 A provável existência da Fábrica de Vidro é posta em dúvida, segundo o arquiteto Carlos Augusto Mattei Faggin, “Não é possível determinar se essa estrutura pertencia ou não a uma fábrica de vidro. Por outro lado, o pé-direito de quase seis metros é pouco comum para o uso exclusivamente residencial. É possível que abrigasse alguma fábrica no pavimento térreo e residência no sobrado, porém é difícil aceitar a convivência de uma fábrica de vidro com qualquer outro uso no pavimento superior: o vidro é fabricado a partir de um forno de alta temperatura que desprende muito calor, tornando impossível a utilização de um sobrado. Acredita-se que o termo “Fábrica de Vidro”, que é associado àquela estrutura, possa também se referir à embalagem de aguardente, apenas. As referências à produção agrícola e a manufatura de Ubatuba, nos séculos XVIII e XIX, citam sempre pipas e tonéis como contenedores de aguardente e nunca garrafas e vidros.” – Em: Sinopses, nº 12 – páginas 3 a 22 – Nov./1989 – Artigo de período da FAU-USP.
PRÓXIMA ATUALIZAÇÃO : 26/11/2010
CAPITULO CASA DA FARINHA - PAGINA 89
DO LIVRO " UBATUBA , ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA"
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