10. FÉLIX
Localização
A praia do Félix se encontra no km 33 da rodovia BR 101. A 15 km do centro de Ubatuba, a única entrada da praia do Félix fica beirando a rodovia, a poucos metros do Belvedere e do posto policial rodoviário. A praia do Félix fica entre as praias de Itamambuca e Promirim.
Acesso
O acesso até a praia do Félix pode ser feito de carro, pela rodovia BR-101, ou de ônibus da empresa Cidade de Ubatuba da linha Centro – Picinguaba ou Centro Promirim. A sua entrada fica exatamente no km 33 da rodovia na guarita. A partir daí são mais ou menos 500 metros de descida com rua asfaltada.
Olhar
O Félix é uma praia de tombo com ondas fortes do lado esquerdo favorável para a prática de surf, o mar é bravio e rebelde como o espírito dos jovens que aí freqüentam, do canto direito, o mar é calmo com boas sombras, um local ótimo para as famílias que aí se reúnem. Desse lado existe uma piscina natural, uma costeira formada por pedras grandes. Também há um pequeno rio que deságua no mar, lugar apto para o mergulho amador. Na praia também está a Capela de São José, padroeiro do bairro, uma capela reformada com a ajuda dos moradores, ela foi restaurada com material de alvenaria transportado no “barco do padre”, pilotado pelo senhor Salvador, que fazia o itinerário Ubatuba – Ubatumirim, duas vezes ao dia. No Félix existe uma única família caiçara que permanece aí mantendo suas tradições da pesca e do folclore local. A paisagem do Félix foi aproveitada para a montagem do filme de longa-metragem Hans Staden por motivo dos 500 anos da descoberta do Brasil.
Atrás do posto da Policia Rodoviária, há um mirante de onde podem ser vistas as belezas naturais do Félix, um feliz encontro entre a mata atlântica com o intenso azul do mar, daí também podem ser vistas as ilhas das redondezas.
A praia possui águas e areias, muito limpas. Sem dúvida é uma das mais belas praias do município de Ubatuba, local de segundas residências. Este fenômeno turístico é de singular importância para Ubatuba, haja vista a grande quantidade de casas pertencentes a proprietários de outras cidades e que fazem parte da população que mora na cidade em determinadas temporadas.
A origem do nome da praia é uma homenagem a um antigo morador do local que segundo o relato oral era o senhor Feliz, dono de algumas propriedades pertencentes a esse setor. Proprietários estrangeiros de antigas fazendas instaladas por aí pronunciavam com dificuldade o nome deste senhor, posteriormente homenageado com o nome da praia que leva seu nome.
Demanda Turística
Existem dois restaurantes na praia do Felix e apenas um ou outro meio de hospedagem com pequenas pousadas. Os meses de maior ocupação são julho, dezembro, janeiro e fevereiro. A origem dos visitantes é principalmente de São Paulo, Rio de Janeiro e interior do Estado que viajam em busca de lazer e recriação com a natureza.
A praia do Félix se apresenta como uma incursão da terra na imensidão do mar, um lugar ideal para sonhar embaixo da sombra de árvores legendárias da mata virgem onde se tece uma das paisagens mais impressionantes do nosso itinerário, borboletas enormes aparecem dançando entre as flores e o barulho ensurdecedor das cigarras no verão preenche o ambiente de uma musicalidade exótica e exuberante que deixa aos mais incrédulos embriagados de sentido.
* * *
Após ter percorrido os dois itinerários propostos, o da visão e o do olhar, podemos constatar que as praias de Ubatuba constituem o atrativo natural mais significativo para o Município, em termos de localização, acesso, demanda e, sobretudo, de admiração estética por parte de seus habitantes e turistas, tudo isto, possibilita a movimentação da economia capaz de sustentar e de garantir a sobrevivência de sua população estável. Ainda sendo sua estrutura de médio porte, nos parece que deve ser incrementado um projeto maior. Nesse sentido, a valorização das belezas naturais da região que são o paraíso de esportistas, ecologistas, pescadores, poetas, pintores, músicos e turistas, não são suficientes, uma vez que tanto o Governo como a iniciativa privada, podem ir atrás de definir políticas de investimento capazes de transformar Ubatuba em um destino turístico desejado a favor de um outro fator indispensável e que enunciamos logo no início deste primeiro capítulo: o humano.
Toda e qualquer ação humana configura um outro tipo de espaço. Por isso, abordaremos a seguir os atrativos culturais que se apresentam como a intervenção direta do homem no espaço natural, sacralizando-se no tempo de suas ações mais imediatas, isto é, fazendo história, criando estórias e construindo assim seu imaginário cultural. Este imaginário cultural é feito de memória em imagens e em palavras vivas sempre prestes a sair para estabelecer um elo entre nosso mundo individual e o social que no caso do turismo se define pela interação do ser humano com o meio ambiente.
O caráter inter e multidisciplinar do turismo nos permitirá, portanto abordar esta categoria dos atrativos culturais a partir de uma visão antropológica e social com o intuito de revitalizar esses lugares produtos do sentir, do pensar e do agir humano.
2. ANCORA NOS PRINCIPAIS ATRATIVOS CULTURAIS DA CIDADE
Uma âncora é sinal de suspensão de uma trajetória ou travessia, este é o significado mais próximo do estado necessário para apreciar os chamados atrativos culturais de Ubatuba, como de qualquer outro destino turístico. Os atrativos naturais são uma dádiva da natureza sempre em movimento, daí o caráter itinerante da nossa viagem pelas praias da região escolhida. Em contrapartida, os atrativos culturais são frutos da intervenção humana ao longo do tempo, tudo aquilo que é da ordem da história e da cultura de um povo.
Portanto, um atrativo cultural se define pela capacidade humana de interferir no espaço natural. Américo Pellegrini define como elementos cruciais do patrimônio cultural: conjuntos e lugares. Conjuntos são agrupamentos de construções, isoladas ou reunidas, cuja arquitetura, unidade e integração na paisagem, lhes proporcionam um valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte e das ciências. Lugares são obras do homem e da natureza, assim como zonas que incluem sítios arqueológicos que também possuem um valor excepcional do ponto de vista: histórico, estético, etnológico ou antropológico (Pellegrini, 1999: 98).
Certamente, estas definições de Pellegrini vêm de encontro com os lugares que escolhemos para ilustrar o patrimônio cultural de Ubatuba. Começando pela Igreja Matriz, marco de entrada da colonização portuguesa na aldeia de Iperoig e terminando no Corcovado, ponto de encontro entre a terra e o céu de Ubatuba, lugar excepcionalmente destacado por guardar o passado mítico de seus primeiros habitantes e as lendas que povoam o imaginário cultural da região. Os 8 atrativos culturais de Ubatuba selecionados para mostrar a sua relação com a história e a cultura da cidade serão: a Igreja Matriz, a Cadeia Velha, Ruínas da Lagoinha, a Casa da Farinha, o Aquário, o Projeto TAMAR e o Casarão do Porto – FUNDART e o Corcovado, entre a terra e o céu de Ubatuba.
- A IGREJA MATRIZ
Localização
A Igreja Matriz encontra-se na praça situada bem no centro da cidade de Ubatuba com as ruas nas laterais: Dona Maria Alves e Condessa de Vimieiro, atrás a Rua Jordão Homem da Costa e à frente a Rua Dr. Félix Guisard.
Horário de Funcionamento
Missas durante a semana e sábado: às 7 h e 19:30 h.
Domingos: 7, 9, 18 e 19:30 h.
Escritório Paroquial: durante a semana das 13:30 às 17:30 h.
A Igreja Matriz de Ubatuba é um prédio histórico capaz de satisfazer o interesse do público pelo passado. A primeira construção da Igreja Matriz foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição, segundo nos relata Washington de Oliveira, no seu livro Ubatuba – Documentário (1977), antes das ruas serem asfaltadas podiam ser vistas a olho nu, as lajens que serviam de alicerces à Igreja1. Nas escavações feitas no lugar, acharam-se ossadas humanas, cadáveres que foram sepultados de acordo com a tradição eclesial, provavelmente sejam corpos pertencentes a clérigos ou nobres da época a quem correspondia tal privilégio.
O primeiro templo devia ser pequeno e em mal estado – observa o historiador -, por essa razão, providenciou-se a construção de uma nova Matriz que teve início na segunda metade do século XVIII. Por decisão da Câmara de São Sebastião, da então Província de São Paulo, que legislava a respeito da Vila de Ubatuba, determinou-se a construção de uma nova Igreja Matriz em vistas de que a existente estava em estado “deplorável”, e assim foram fixadas contribuições para este nobre propósito.
Muitos foram os empecilhos após a declaração da Câmara de São Sebastião (1798), que assombraram o projeto da Igreja Matriz. Problemas nos alicerces, madeiras corrompidas e irregularidades nas paredes constituíam um vexame para o Império que na Matriz de Ubatuba visualizava um emblema de seu poder temporário.
O dilatamento da burocracia em relação ao início das obras deixou-se ver até o ano de 1835, quando a Igreja Matriz ainda estava nos inícios de sua edificação. Por esta razão, os habitantes da cidade procuraram organizar uma loteria beneficente em prol das obras do empreendimento religioso2. Documentos da época caracterizam um tipo de discurso persuasivo em função do louvor e das preces a Deus como primeiro e último beneficiário de tal elevação, vale a pena esclarecer que o destinatário direto de tais benefícios era o próprio Rei ou Imperador que, em última instância, mediava as leis que regiam a ordem celeste e terrena.
A grande contribuição para a Igreja veio do povo, principalmente, como reafirma o historiador anteriormente citado, “do suor derramado pela mão escrava”, desejosa de conciliar: os interesses públicos com os privados, em torno de um templo de arquitetura colonial no litoral paulista.
A morosidade da época e a grandiosidade da empresa Matriz arrastaram a obra até os alvores do século XX, momento a partir do qual Washington de Oliveira passa a ser testemunha ocular3. O historiador, pesquisador e ex – prefeito de Ubatuba descreve por meio de fotogramas da cidade, o estado da Matriz no século XIX, uma Igreja totalmente erguida, mas sem torres, ostentando uma pequena água – furtada onde estariam os sinos. Nessas fotografias aparecem as atuais palmeiras plantadas pelo Intendente Municipal Francisco Pires Nobre e, segundo testemunhas, funcionava também um relógio visível à distância e que por muito tempo marcou as horas da cidade4.
A Igreja Matriz hoje tem uma torre que lhe dá o aspecto de inacabada. Até 1904, relata “Seu Filhinho” não existiam bancos no interior da Igreja, as devotas ubatubenses assistiam a missa em pé ou ajoelhadas. Nesse mesmo ano, o Coronel Francisco Pereira foi o festeiro do Divino Espírito Santo que conseguiu que esta festa patrocinasse as despesas na melhoria da Igreja.
O Padre Paschoal Reale, reconhecido vigário na história de Ubatuba atendia esta cidade e a Ilha Bela, na sua gestão demoliu a Igreja do Rosário que ficava na atual Praça Nossa Senhora da Paz. Aproveitando o material e os auxílios angariados fizera rebocar, forrar e dotar o piso da Capela – Mor e transferiu para lá o Altar – Mor de Exaltação à Santa Cruz.
Em 1956, os Frades Franciscanos Conventuais: Frei Tarcísio Miotto, Frei Vittorio Valentini e Frei Vittorio Infantino tomaram conta da Igreja Matriz oferecendo todos os cuidados que ela precisava. Desde 1980, o vigário Frei Mangélico Maneti empreendeu a restauração do templo trocando a madeira, o decorado interior da nave principal restaurando os corredores e substituindo todo o reboco externo até a pintura total da fachada.
Este espaço de devoção é um dos principais atrativos culturais de Ubatuba, a memória viva da evangelização na configuração do contexto urbanístico do Novo Mundo. Além de a Igreja Matriz representar o esforço de sua população, ela é uma imagem fiel do sacrifício da Santa Cruz e do espírito de luta de São Pedro Pescador que hoje é um reflexo da identidade caiçara de Ubatuba.
1 Sabe-se que a imagem de Nossa Senhora da Conceição faz referência a Maria, mãe do Messias, sob esta devoção prefigurativa, alçou-se a Igreja Matriz de Ubatuba deixando de manifesto o caráter matricial da Igreja dos primeiros evangelizadores advindos às Terras da Santa Cruz.
2 É interessante notar como um jogo de azar já na época é revertido em favor de uma causa religiosa.
3 “As primeiras notícias que da antiga Igreja temos e que citamos só havia a Capela – Mor e que as paredes da nave estavam ruinosas, descobertas, prestes a ruir”. A Capela – Mor destinada ao padroeiro ou padroeira é a parte principal do altar, desta só existia o arcabouço: paredes e telhado. A Igreja não tinha revestimento nas paredes, o teto não era forrado e o solo não tinha piso, era chão bruto (De Oliveira, 1977:96).
4 As primeiras árvores chegaram a Ubatuba através de mudas adquiridas pela Câmara Municipal em 1876, a sua origem é do Jardim Botânico de Rio de Janeiro. A espécie é denominada Palmeira Real, modificada para Palmeira Imperial (De Oliveira, 1977:127).
Proxíma atualização 14 de novembro 2010
Capitulo . Cadeia Velha , pagina 79/80 ...
ESTE PEXTO É PARTE INTEGRANTE DO LIVRO
UBATUBA, ESPAÇO,MEMORIA E CULTURA
EDITADO EM 2005 -
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