segunda-feira, 25 de outubro de 2010

UBATUBA E SUA HISTÓRIA.........Um da História da Imprensa Escrita de Ubatuba

A imprensa foi a primeira mediadora na configuração do espaço público moderno, que teve em Ubatuba um modelo de circulação outrora restrito, mas que na sua origem formou o espaço público desta cultura na serra do mar.


Hoje podemos falar em uma multiplicidade de espaços públicos, que institucionalizam os processos de formação das opiniões. As tecnologias da comunicação – a imprensa, o rádio, a televisão, o cinema – difundem diferentes discursos em diversos contextos e ajudam à criação de uma rede diferenciada do espaço público local e inter – regional, literários, científicos e políticos. Estes espaços públicos plurais e inacabados como afirma Habermas (1992), e de fronteiras permeáveis, cruzam-se entre si e remetem para um espaço público global. Estamos perante um modelo pluralista, a ser levado em consideração (Babo Lança, 2002, apud Sousa, 2004:73).

O jornalismo é uma poderosa estratégia de comunicação social como o demonstra o percurso histórico desta mídia regional em Ubatuba, que tentaremos reconstruir, a partir do livro Ubatuba – Documentário de Washigton de Oliveira (1977) e por uma entrevista realizada com o historiador Luiz Euclides Vigneron interessado neste assunto.

No dia 12 de outubro de 1896, apareceu o primeiro exemplar do jornal Echo Ubatubense , dirigido pelo então intendente Dr. Esteves da Silva. Este anunciava nas páginas de rosto que esse jornal seria um legítimo defensor dos interesses de Ubatuba. As colunas deste semanário falam de geografia, de mitologia, de literatura, de “higiene da alma” e oferecia, um calendário de atividades e eventos da vida social, além de avisos comerciais, o que indica a parceria para baratear os custos de impressão, tiragem e circulação. Parece-nos que a intenção comunicativa deste jornal era educar a população carente de informação sobre o acontecer temporal, mas esta primeira forma de mídia impressa teve curta duração, pouco mais de um ano de existência.

Após o desaparecimento do Echo Ubatubense surgiu um outro jornal, chamado Ubatubense, dirigido por Luiz Domiciano da Conceição Júnior, tratava-se de um semanário que não conseguiu emplacar no tempo. Logo veio o jornal O Fogo, dirigido por Paulo Egídio da Costa Ferreira que exercia dentro do jornal todas as funções: escritor, impressor e entregador. O Relâmpago foi um outro semanário, dirigido por Ernesto de Oliveira que ao perceber o fracasso de sua produção, cria com um outro grupo de amigos, o jornal O Popular. A seguir, começa a circular O Papagaio, jornal feito em papel verde. Esse jornal foi dirigido por Oscar Amando da Cunha e Irineu Ferreira Gomes.

Observamos que o início do jornalismo em Ubatuba remonta a fins do século XIX, começo do século XX, colaborando com a implantação da República. Naquele então, não se falava de nação e sim de Brasil como país, a idéia de nação era um projeto a ser construído sob a consigna do progresso. Desta forma, os jornais traziam menos noticias, assumiam o papel educativo de formadores de opinião, porta – vozes das mudanças que precisavam acontecer na mentalidade e no comportamento dos habitantes de Ubatuba, em sintonia com o cenário nacional. A finalidade dos jornais era política e o conteúdo dos mesmos doutrinário.

O 1º de novembro de 1905, outro jornal aparece no âmbito cultural ubatubense A Cidade de Ubatuba, fundado por Floriano Rodrigues de Morais e sucedido pelos irmãos Ernesto de Oliveira e Deolindo de Oliveira Santos que deram continuidade com a publicação por 25 anos, até 1930.

Em 1914, o jornal O Lápis foi editado e escrito por Idomeu Ferreira Gomes, José Pedro Toledo e José Puccini, cedendo prontamente seu lugar a um outro jornal chamado O Prego, cujas páginas resultavam bastante incisivas em termos ideológicos. Washington de Oliveira, em obra anteriormente citada faz alusão a um jornal de nome O Lampião, de circulação “clandestina” e de curtíssima duração, também fazendo referência às investidas políticas em tempos conturbados do estabelecimento das forças que definiriam o destino do país na sua busca de identidade nacional.

Funda-se em seguida, o jornal A Cidade e O Arauto, lançado em 1920, pelo engenheiro Jacundino Barreto, o promotor Olegário de Toledo Barreto e o professor Máximo de Moura Santos. Foram dois jornais da época que implantaram uma verdadeira luta entre partidos políticos, em um espaço bastante restrito, de um público não preparado para este tipo de discussão.

O jornal Ubatubense saiu à luz em 1934, era um semanário criado por José Rosa e Carlos Gewe, sob a direção de Altivo Simonetti. A década de 40 não tem registros da existência de algum jornal devido aos problemas conjunturais da guerra mundial. O documentarista – historiador, citado anteriormente, registrou a história da imprensa em Ubatuba, mencionando outros jornais como A Tribuna Caiçara de Lycurgo Barbosa Querido na década de cinqüenta, O Atlântico de Manuel Esteves da Cunha Júnior e Fernando Azevedo, na década de sessenta e A Tribuna sob a administração de Francisco Matarazzo Sobrinho. Todos estes jornais desapareceram em função dos interesses políticos circunstanciais do momento de tensão que Ubatuba viveu em estreita relação com cenários de revolução e de ditadura .

O jornal Maraberto veio a preencher a lacuna de tempo sem publicações significativas, tratava-se de uma produção mensal encabeçada por jovens da década de setenta pertencentes ao grêmio estudantil. Tais jovens tinham a missão de reivindicar a cidade e suas tradições, este pareceu ser o eixo propulsor do jornalismo como instância mediadora no município até a década de oitenta. Cabe mencionar a existência de um jornal regional produzido também na década de setenta em Caraguatatuba, denominado O Litoral Norte que incluía notícias de Ubatuba.

A Semana é um jornal, fundado em 1999, no dia de aniversário da cidade, durou apenas 5 anos, mas deixou registros dos principais acontecimentos e vivências do município. Seu fundador e proprietário, Josias Sabóia encerrou as atividades do jornal em outubro de 2004, passando a ser um jornal on – line de publicação semanal1 . Nesta mesma linha, o jornal O Povo teve sua vez para falar sobre a realidade social de Ubatuba, por um período breve, seu fundador e proprietário era Oswaldo Luiz que deixou este projeto e se encaminhou para uma outra publicação.
1 Esta publicação do J.B.N.S. Propaganda pode ser encontrada no site: http://www2.uol.com.br/jornalasemana.



Na atualidade, Ubatuba conta com três jornais expressivos: A Cidade, Opinião e Agito Ubatuba. Cada um possui um estilo diferente ao referenciar o cotidiano do município e o acontecer nacional e internacional.

O jornal A Cidade fundado em 1985 por Gilberto Bosco Ferretti, natural de Lorena, tem um formato standard, com impressão off – set, realizada em São José dos Campos. Sua periodicidade é semanal e distribuído também aos sábados. No inicio, este jornal tinha 4 páginas, hoje alcança 16. Por outro lado, o jornal Opinião é de circulação regional, seu primeiro número foi publicado em 2005, a circulação semanal garante abertura à população que pode expressar com liberdade seus pontos de vista a respeito da realidade contingente da cidade. Seus diretores são: Oswaldo Luiz e Denis Bomeisel. O jornal Agito Ubatuba é um semanário informativo, lançado em 2004, tem como objetivo a imediatez dos acontecimentos da cidade:cultura, lazer, história, turismo ou esportes são as pautas que regem suas colunas, a tiragem é de 2000 exemplares e a distribuição é gratuita. O diretor executivo deste jornal é Ewaldo Matins e o diretor comercial Kaka Di Lorenzo.

Percebemos que a história da imprensa em Ubatuba, acompanha as fases históricas do jornalismo como meio de comunicação social, através dos processos de institucionalização, que lhes confere o direito de produzir enunciados em relação a essa realidade, socialmente aceita como verdadeira pelo consenso da sociedade na qual estão inseridos. A história do jornalismo em Ubatuba.

O mito da neutralidade e da imparcialidade no jornalismo, que surgiu em meados do século XIX, com a idéia de um jornalismo informativo e que se fortaleceu no século XX, por meio do conceito de objetividade, no Brasil consolidou-se com as reformas editoriais da década de cinqüenta, quando se introduziu no país o modelo norte-americano de fazer jornalismo. O desenvolvimento técnico do jornalismo buscou no “espírito científico”, o cuidado com os fatos. As regras de redação retiraram do jornalismo noticioso qualquer caráter emotivo e participante. Para garantir a impessoalidade, se dispôs um estilo direto, sem metáforas, pois a comunicação jornalística deveria ser antes de mais nada referencial. Antes o jornalismo foi o lugar do comentário sobre as questões sociais, da polêmica de idéias , das críticas e da produção literária. Agora, ele passa a ser “espelho” da realidade. Os acontecimentos emergem naturalmente do mundo real, concebidos como notícia, elemento básico para a construção de um jornal.

Adentrarmos no universo da mídia jornalística foi um ato proposital, para perceber, até que ponto a informação fornecida nos ajudaria a reconstruir a memória da cultura de Ubatuba, objeto de estudo deste livro. Mas a tarefa se revelou complexa, uma vez que a documentação, testemunho histórico recolhido se transforma, segundo Jacques Le Goff, em um monumento, um ato de poder, uma intencionalidade de perpetuação de certa visão do passado. A noção de documento – monumento deriva de uma posição crítica do historiador em face dos documentos, encarados como produto dos jogos de forças presentes nas sociedades históricas. Isto nos aconteceu o tempo todo, no decorrer da pesquisa, seja com livros e relatos dos primeiros colonizadores, assim como no caso dos exemplares do Echo Ubatubense (1897), que conseguimos manusear.

A intervenção do historiador que escolhe o documento, extraindo-o do conjunto de dados do passado, preferindo-o a outros, atribuindo-lhe um valor de testemunho que, pelo menos em parte, depende de sua própria posição na sociedade da sua época e da sua organização mental, insere-se numa situação inicial que é ainda menos “neutra” do que sua intervenção. O documento não é inócuo. É, antes de mais nada, o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que a produziram, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuo a viver, talvez esquecido, durante as quais continuo a ser manipulado, ainda que pelo silêncio (...) Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias. No limite não existe um documento – verdade.
(Le Goff, 1994:547)

O tema da fonte histórica se alarga para além dos limites do texto tradicional. Segundo Le Goff, exige a elaboração de uma nova visão, capaz de transferir esse documento – monumento do campo da memória para o campo da ciência, neste caso, das ciências da comunicação.

Constatamos nessa acidentada história do jornalismo em Ubatuba que nenhum tipo de registro é ingênuo ou descomprometido com a realidade situacional de uma cultura. Todo registro jornalístico pressupõe um trabalho de linguagem, isto significou que uma tomada de posição das pessoas que vivem em uma sociedade faz do discurso jornalístico, um mecanismo ideológico próprio que funciona atribuindo sentido aos fatos da atualidade. Assim, o jornalismo ubatubense produz uma forma de história, construindo e legitimando Ubatuba como espaço social.

O jornal é para nós, um exemplo bem específico de fonte histórica – da memória atrelada à política e às instituições que configuram o universo cultural de Ubatuba. Sabe-se, entretanto, que o órgão que impera está sempre defendendo posições, querendo formar opiniões através da venda de informações, justamente é isso que nos permite detectar a posição política e a visão da realidade que tiveram os proprietários ou diretores de jornal, ou melhor, o grupo social que eles representavam (Borges, 1988:58-60).

O papel da imprensa em Ubatuba teve um caráter político forte, haja vista, o nome destes jornais que fazem alusão ao espírito de civilidade e de crítica social ante os acontecimentos que configuravam o cenário nacional em períodos históricos cruciais no Brasil. Neste sentido, acreditamos que o espaço da mídia regional é apenas um eco da mídia nacional e internacional que pauta a notícia do dia, da semana, do mês e do ano todo. Mas, acreditamos que a vocação do jornalismo está comprometida com a imediatez da sociedade e da cultura que está refletindo, por isso nosso apelo vai para os jornais de hoje, no sentido de resgatar o espaço, a memória e a cultura local assim como formar os seus leitores para a crítica, base do verdadeiro jornalismo.

DO LIVRO "  UBATUBA , ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA " - 2005

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