Para os poucos que ainda estão vivos, aquela noite de dezembro de 1.957 marcada pela inauguração do Cine Iperoig ficou na história da cidade. Um luminoso vermelho e verde indicava o nome da casa de espetáculos e cartazes não menos coloridos anunciavam O Corcunda de Notre Dame.
Sem sombra de dúvidas, era o orgulho da cidade aquele enorme salão decorado com afrescos onde destacavam imagens de caiçaras em canoas a jogar tarrafa, como também eram as duas bilheterias sempre cheias para conhecerem a nova maravilha ubatubense.
Superado pelo tempo, abafado pelo progresso, tomado pelas pulgas, o espetáculo mudou de rumo e de dono. A casa de diversão mundana passou para templo de almas. O Corcunda e seus sucessores deram lugar às almas aflitas que buscam nas casas de orações, cultos e outros expedientes, a amenidade da vida, a garantia da bem-aventurança na eternidade.
Alias, no início do século a população deve ter passado pela mesma decepção quando do fechamento do Atheneu Ubatubense, casa de cultura localizada na mesma praça e que se destinava a divulgar jornais por ela editado, reuniões culturais e saraus.
Seu prédio ficou abandonado por muitos anos, sendo deteriorado pelo tempo e acabando por cair, dando lugar nos dias de hoje à Casa Paroquial.
Outra casa cultural foi destruída, desta feita para dar lugar a construção do prédio do Fórum. Antigo teatro, foi reformado pelos idos de 1.950 para dar lugar ao primeiro cinema da cidade. Já naquela época a reforma da casa de espetáculos havia desfigurado completamente a arquitetura original, perdendo-se assim, um recinto cultural em nome do progresso.
Para quem está lendo este texto e não conhece Ubatuba, há de imaginar tratar-se de uma cidade que não tem muita disposição em preservar patrimônios culturais.
Na realidade essa assertiva, se não é verdadeira, aproxima-se muito da realidade, visto que, quando do fechamento do atual cinema para dar lugar a uma igreja, algum movimento foi iniciado para impedir esse evento, certamente não dando em nada como os demais. Afinal, quem tem esse mundaréu de praias, não precisa de centros culturais, mesmo porque, Anchieta para escrever seu poema à Virgem, dizem com cinco mil versos, não precisou de nenhuma biblioteca, ou mesmo uma escrivaninha. Somente uma simples vara de caniço e provavelmente uma tremenda dor nas costas. O resto, a areia da praia, alva e lisa e a excelente memória do missionário deram conta do recado, não precisa dizer que o ingrediente principal estava na cabeça do quase santo.
Em homenagem a ele e sua obra cultural, resolveram fazer uma estátua, diga-se de passagem de péssimo mau gosto e de horrível material e acabamento. Na mão do Santo, uma vara indicando a construção de sua obra literária. Sabe o que fizeram? Levaram sua vara embora, certamente de souvenir, ficando tão somente a figura tosca e mal acabada de alguém que deixou uma história tão bonita para ser contada.
Se o Beato quiser refazer sua obra, ou mesmo criar outra, que o faça no céu. A praia também foi fechada para ele, ou reformada para outras finalidades menos nobres.
Herbert José de Luna Marques
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