No despertar do amanhecer, os pescadores retornam para suas casas após uma noite cansativa. Quem está caminhando pela orla de Iperoig (baía de tubarões em tupi-guarani) tem uma imagem que alguns só ouviram falar... Poesia para uns, rotina corriqueira para outros.
A praia, que também leva o duplo nome de Cruzeiro, é simbolizada pelo monumento do mesmo, onde fiéis ascendem suas velas, fazem suas promessas e relembram do ‘acunticido’ como diria o caiçara; do Primeiro Tratado de Paz da América Latina, batizado nos livros de história como ‘Paz de Iperoig’ defendida pela ‘Confederação dos Tamoio’ assinada em 14/09/1563 (se diz mesmo tamoio, não tamoios, pois na língua indígena não existe o plural e o uso do s.)
Quem pisa nas areias de Iperoig tem o privilégio de reviver histórias que estão ligadas diretamente a formação contextual de nosso país. Suas areias foram cúmplices da maior renda per capita do Brasil, quando Ubatuba ainda pertencia ao estado do Rio de Janeiro e abrigava o maior porto da época importando e exportando especiarias como cana-de-açucar, café, etc.
Em suas areias também pisaram personagens ilustres de nossa história como o alemão Hans Staden, que inspirou um longa-metragem; o santificado Padre José Anchieta que escreveu nas areias de Iperoig o poema “A Virgem” com 5 mil e tantos versos, eternizados em páginas de livro que contam sua história. O importante empreendedor Ciccilio Matarazzo, sendo até prefeito da terra que é a menina dos olhos do litoral norte paulista; construiu sua mansão ao lado da praia de Iperoig só para apreciar a vista paradisíaca. Até Prof. Thomaz Galhardo, criador da primeira cartilha de alfabetização do país não resistiu e construiu sua casa beirando a orla, hoje onde é a Câmara Municipal.
Coaquira, o chefe da tribo de Iperoig, já não está mais aqui, mas muitos depois dele fizeram suas pegadas nas areias. Hoje quem faz a história somos nós, turistas, moradores, amantes da beleza embriagante ou os que nela nascem, filhos que ‘cai e çara’. Conhecer Ubatuba é vivenciar experiências ímpares como acontece todo mês ás 18h, quando a lua cheia surge na baía proporcionando um marcante espetáculo, lembrando que a nossa história não pára. Mistérios ocorridos no céu, caravelas em alto mar, guerrilha e paz em terra, o que mais suas areias guardarão?
Localizada no centro da cidade, quando a tarde cai, as famílias e amigos dão vida à orla de Iperoig: tomam sorvetes, lêem livros nos bancos do jardim da praia, visitam a feira hippie, a praça dos Artistas Plásticos, assistem a missa da Matriz, conhecem o Sobradão do Porto, aproveitando para ver a exposição do mês e depois jantam em um dos bons restaurantes espalhados ao longo da avenida. Com o passar das horas, logo mais à noite, os jovens e boêmios vem substituir a tranquilidade pelo agito e é aí que tudo acontece. Os bares noturnos com música ao vivo (têm para todos os gostos), a moçada passando para lá e para cá, distribuindo juventude. E lá está a bela Iperoig, cúmplice da história que estamos construindo, eterna em nossas vivências de uma beleza que só os olhos podem perceber e a alma sentir.
Matéria Publicada na Ubatuba em Revista de Outubro #09
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