segunda-feira, 19 de outubro de 2009

PRAIADE IPEROIG

No despertar do amanhecer, os pescadores retornam para suas casas após uma noite cansativa. Quem está caminhando pela orla de Iperoig (baía de tubarões em tupi-guarani) tem uma imagem que alguns só ouviram falar... Poesia para uns, rotina corriqueira para outros.


A praia, que também leva o duplo nome de Cruzeiro, é simbolizada pelo monumento do mesmo, onde fiéis ascendem suas velas, fazem suas promessas e relembram do ‘acunticido’ como diria o caiçara; do Primeiro Tratado de Paz da América Latina, batizado nos livros de história como ‘Paz de Iperoig’ defendida pela ‘Confederação dos Tamoio’ assinada em 14/09/1563 (se diz mesmo tamoio, não tamoios, pois na língua indígena não existe o plural e o uso do s.)

Quem pisa nas areias de Iperoig tem o privilégio de reviver histórias que estão ligadas diretamente a formação contextual de nosso país. Suas areias foram cúmplices da maior renda per capita do Brasil, quando Ubatuba ainda pertencia ao estado do Rio de Janeiro e abrigava o maior porto da época importando e exportando especiarias como cana-de-açucar, café, etc.

Em suas areias também pisaram personagens ilustres de nossa história como o alemão Hans Staden, que inspirou um longa-metragem; o santificado Padre José Anchieta que escreveu nas areias de Iperoig o poema “A Virgem” com 5 mil e tantos versos, eternizados em páginas de livro que contam sua história. O importante empreendedor Ciccilio Matarazzo, sendo até prefeito da terra que é a menina dos olhos do litoral norte paulista; construiu sua mansão ao lado da praia de Iperoig só para apreciar a vista paradisíaca. Até Prof. Thomaz Galhardo, criador da primeira cartilha de alfabetização do país não resistiu e construiu sua casa beirando a orla, hoje onde é a Câmara Municipal.

Coaquira, o chefe da tribo de Iperoig, já não está mais aqui, mas muitos depois dele fizeram suas pegadas nas areias. Hoje quem faz a história somos nós, turistas, moradores, amantes da beleza embriagante ou os que nela nascem, filhos que ‘cai e çara’. Conhecer Ubatuba é vivenciar experiências ímpares como acontece todo mês ás 18h, quando a lua cheia surge na baía proporcionando um marcante espetáculo, lembrando que a nossa história não pára. Mistérios ocorridos no céu, caravelas em alto mar, guerrilha e paz em terra, o que mais suas areias guardarão?

Localizada no centro da cidade, quando a tarde cai, as famílias e amigos dão vida à orla de Iperoig: tomam sorvetes, lêem livros nos bancos do jardim da praia, visitam a feira hippie, a praça dos Artistas Plásticos, assistem a missa da Matriz, conhecem o Sobradão do Porto, aproveitando para ver a exposição do mês e depois jantam em um dos bons restaurantes espalhados ao longo da avenida. Com o passar das horas, logo mais à noite, os jovens e boêmios vem substituir a tranquilidade pelo agito e é aí que tudo acontece. Os bares noturnos com música ao vivo (têm para todos os gostos), a moçada passando para lá e para cá, distribuindo juventude. E lá está a bela Iperoig, cúmplice da história que estamos construindo, eterna em nossas vivências de uma beleza que só os olhos podem perceber e a alma sentir.



Matéria Publicada na Ubatuba em Revista de Outubro #09

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