7. FUNDART – FUNDAÇÃO DE ARTE E CULTURA DE UBATUBA
Localização
Rua Dr. Felix Guisard – Centro, bem em frente a Praça Anchieta, próximo ao Mercado de Peixe, no final da Av. Iperoig.
Funcionamento
A FUNDART mantém um calendário regular de exposições durante o ano todo e também oferece espaço para apresentações de teatro, dança e música, além de exibições de filmes em um auditório com capacidade para 70 pessoas.
O Sobradão do Porto como é conhecido o edifício onde funciona a FUNDART – Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba, foi construído em 1846 pelo armador Manoel Baltazar da Cunha Fortes, advindo ao Brasil em 1808 junto com a Corte portuguesa. Baltazar era fazendeiro de café e proprietário de uma vastíssima área da região litorânea.
O edifício é um sobrado em alvenaria de pedra e cal. O engenho da moagem fica no andar térreo e a residência no andar de cima. Uma versão litorânea da arquitetura urbanística que começou aparecer na Europa por volta de 1840, principalmente nas vilas européias de Espanha e Portugal.
Para a construção do Sobradão, o armador mandou trazer de Portugal as vigas, os gradis das varandas, os portais de pedra e as cantarias. Baltazar mandou misturar técnicas brasileiras de taipas de pilão à alvenaria européia e acrescentou a pintura francesa à fachada e aos interiores do prédio, dando-lhe um ar de extrema sofisticação. O terceiro andar e a fachada transformaram o edifício em uma obra de arte, o último baluarte da época de maior esplendor de Ubatuba, quando a cidade e este edifício foram o principal ponto na exportação de café pela via marítima.
O solar, típica construção mediterrânea transposta para a crescente cidade de Ubatuba serviu de armazém no andar térreo, lugar destinado para o marcado alfandegário, por ele passavam produtos de toda a região que seguiam rumo para Europa, os importados, como sal, cereais e outras mercadorias eram recebidos e armazenados com o intuito de garantir sua conservação. No entanto, o fluxo que movimentava o então Porto de Ubatuba foi desviado para Santos, com a construção da estrada de Ferro que interligou São Paulo ao Rio de Janeiro ao longo do Vale do Paraíba. Nessa época o Banco de Taubaté um dos principais financiadores de um ramal ferroviário que ligaria Ubatuba a Taubaté, entrou em falência,. Ubatuba abdica assim de suas atividades comerciais.
Por volta de 1890, a família Baltazar Fortes se muda para Rio de Janeiro deixando o prédio do Sobradão do Porto abandonado. O Casarão ficou fechado por longo tempo até que Julio Kerkis, um húngaro refugiado do regime comunista, chegou a Ubatuba em 1926, alugou o prédio de Benedita Fortes Costa, filha do armador português, e o transformou em o Hotel Budapeste que contou com um restaurante até o ano de 1934. Dois anos depois, o edifício foi vendido pelo herdeiro, Oscar Costa, à Cia. Taubaté Industrial – CTI de Félix Guisard. Nesse período, o prédio passou por uma série de alterações, assim como a área vizinha na qual Guisard construiu várias casas para Colônia de Férias dos funcionários da CTI. A parte térrea do edifício foi transformada para fins comerciais, funcionou por algum tempo como casa de lavoura e lojas de artesanato.
Em 1954, o Casarão do Porto foi tombado pela SPHAAN, Secretaria do Patrimônio Histórico Artístico e Arquitetônico Nacional e em 1983, desapropriado pela Prefeitura Municipal de Ubatuba. As obras de restauração tiveram início nesse mesmo ano com verbas do Ministério de Cultura sob a supervisão do SPHAAN de São Paulo, mas estas foram desativadas em 1987.
A partir desse ano, começou a funcionar no prédio do Casarão do Porto a FUNDART – Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba. O objetivo desta entidade é desenvolver a política cultural do município. Mantida pelo poder público, é uma Fundação Pública de Direito Privado, administrada por uma diretoria executiva e pelo Conselho Deliberativo. O Conselho deliberativo é formado por representantes de diversas áreas artísticas, como artes cênicas e dança, literatura, folclore, artesanato, história e geografia de Ubatuba, música, artes plásticas e fotografia, cinema e vídeo.
Uma das principais funções da FUNDART é reconhecer a cultura caiçara e suas expressões, a idéia consiste em preservar a memória e os costumes locais. Ensinar também é uma prioridade desta Fundação, há oficinas culturais onde as pessoas aprendem artes e ofícios: cerâmica, teatro de rua, instrumentos musicais, sucata, modelagem, cestaria, sapateado, desenho, ballet, piano, alongamento, violão e pintura. A instituição atende mais de 400 pessoas no edifício do Sobradão e também em bairros distantes através de programas especiais para crianças e adolescentes carentes como o projeto Cultura na Praça que leva atividades culturais desenvolvidas por monitoras especializadas em arte e educação.
A Biblioteca Municipal, Ateneu Ubatubense , administrada pela FUNDART, hoje é um espaço sócio – cultural onde os usuários contam com assessoria de monitores assim como classes das escolas municipais e estaduais são recebidas por meio de visitas guiadas. A Biblioteca oferece também os serviços de empréstimo de livros, xerox, acesso à Internet e hemeroteca.
8. O CORCOVADO, ENTRE A TERRA E O CEU DE UBATUBA
Localização
O Corcovado de Ubatuba está localizado ao sul do município, no bairro do Sertão do Corcovado distando aproximadamente 23 km do centro Sua entrada para o sertão fica bem em frente a entrada do loteamento da praia Dura.
Acesso
O acesso é pela rodovia Rio – Santos, BR 101, no km 67 perto da Praia Dura. Sua entrada para o sertão está à direita da rodovia de quem vem do centro de Ubatuba,adentrando perto de 3 km,pela rodovia Yoshio Tosaki. Lá sob orientação de guias especializados pode-se iniciar a caminhada pela trilha , que dura, em média, 8 h até o topo do Pico do Corcovado.
De todos os atrativos natural ou histórico - culturais descritos neste livro, o Corcovado é o único cuja visão é alcançada em qualquer ponto da cidade. Em dias de céu azul é possível, além de enxergá-lo, ver todo seu contorno, seu desenho em formato de um degrau de escada ou como uma corcunda. O historiador da cidade Washington de Oliveira, “Seu Filhinho”, autor de UBATUBA, Lendas & Outras Histórias (1995) – em sua descrição diz a respeito do Corcovado: “- É uma formidável corcunda de pedra que se eleva de silhueta de Serra do Mar, da qual é, nestas redondezas, o ponto mais elevado, fazendo realçar essa giba desde Picinguaba até a ponta de Martim de Sá, nas proximidades de Caraguatatuba".
Mas quando saímos do centro de Ubatuba em direção ao sul do município pela rodovia Rio – Santos e passamos por algumas praias e nos aproximamos do bairro Sertão do Rio Escuro e da Praia Dura, ele parece nos acompanhar e nos observar. Sua visão vai se ampliando e suas formas montanhosas vão definindo melhor o pico e seu cume. Quando nos adentramos em direção ao sertão, seguindo a estrada, a paisagem é composta de matas abundantes da Serra do Mar. O pico do Corcovado se destaca magistralmente entre outras montanhas mais baixas, o monte de Ubatuba que une a terra e o céu inspirou as mais ancestrais lendas e ritos do imaginário cultural da cidade.
A sua altura é contestada hoje, antes era considerado o ponto mais alto do município, a sua elevação chega a mais de 1.150 metros do nível do mar, mas sabe-se que não é o ponto mais alto da cadeia da Serra do Mar. Por este motivo, esta altura proporciona uma visão insuperável de toda a região que em dias limpos, sem nuvem no céu, lá de cima de seu cume pode-se ver desde Sul Fluminense até o final do Litoral Norte Paulista, o Vale Oeste como a Serra do Mar, a Bocaina e a Mantiqueira. Esta visão impressionante do alto da cidade de Ubatuba faz sentir, segundo aqueles que têm feito a experiência uma mistura de sensações sobre o infinito do firmamento. De braços abertos, o Corcovado é comparado com o Cristo Redentor de Rio de Janeiro, como se estivesse abraçando toda a beleza da cidade de Ubatuba, ou como se tivesse um poder sobre todos lá em baixo, ou ainda, como se fosse alçar vôo em direção ao horizonte, primeiro sobre um mar verde da Mata Atlântica e depois sobre o mar azul do Oceano Atlântico.
O Corcovado é famoso não tanto por seu sertão ou seu bairro com seus muito e antigos moradores, mas por ser um desafio de aventura. Uma trilha considerada das mais difíceis da região. Em um percurso de aproximadamente 8 h de caminhada, a trilha oferece uma excursão e tanto para aqueles amantes do esporte chamado de radical, o traiking. Rios, cachoeiras no meio da beleza tão presente no coração da Mata Atlântica, o Corcovado impressiona por sua variedade de plantas e árvores centenárias, bromélias e outras espécies raras da flora e também da fauna que acabam por aliviar o cansaço exaustivo da caminhada íngreme. Quando ao final do trajeto mais fácil da trilha, o aventureiro depara-se com um paredão rochoso de 700 metros considerado este ponto o momento mais complicado, torna-se necessário uma escalada. Por se tratar de uma trilha longa, demorada e difícil, aconselha-se pernoitar no alto do pico e fazer a volta no dia seguinte.
São três as possibilidades de percurso para fazer a trilha até o cume do Corcovado. A primeira é pelo sertão do Corcovado ao sul seguindo como se fosse à praia Dura, é a mais íngreme das subidas e quase uma escalada o tempo todo. Pelo lado Norte já é uma trilha mais fácil próxima do Horto Florestal, saindo da Cachoeira dos Macacos, porém esta opção é a mais longa e demorada. Ainda pela Serra existe uma outra chance de chegar às alturas, um caminho que é pouco explorado cuja via principal se dá pelo caminho que une Ubatuba e Taubaté. Vale lembrar que o roteiro desta trilha, por se tratar de um percurso difícil que adentra na mata atlântica, necessita sempre do acompanhamento de trilheiros especializados e credenciados nas agências existentes no município. A época ideal para fazer estas trilhas são as estações do outono e inverno, pois são épocas em que o índice de chuva é baixo e os dias de sol são mais freqüentes, proporcionando uma vista límpida e de céu azul.
Esse cenário, pela beleza e originalidade, já foi explorado pela mídia televisiva, sendo o lugar escolhido e servindo de pano de fundo na gravação do comercial para o lançamento de um modelo de carro da Chevrolet no ano de 1994. Em uma semana produziram-se as filmagens em uma verdadeira operação técnica que precisou além de um trilheiro bem experiente do grupo Guaynumbym, o uso de um helicóptero com cabos de aço para a locomoção da carcaça do veículo postando-o bem no cume do pico. O comercial ficou sendo vinculado por longo tempo em todas TVs brasileiras.
O Corcovado, tão misterioso e silencioso guarda uma porção de estórias, lendas de tesouros, romances e terror, mas nos parece um lugar de referência para o imaginário, onde se espelharam as mais ricas experiências culturais dos antepassados que viram neste lugar, um símbolo de união entre a terra e o céu de Ubatuba.
* * *
O turismo é uma atividade de lazer que pressupõe também um trabalho regulamentado e organizado por parte da comunidade local, diz John Urry no seu livro O olhar do Turista (1990). As relações do turismo surgem a partir do movimento e da permanência de pessoas em vários destinos. Turistas escolhem ver lugares porque há uma expectativa especialmente devido a devaneios e fantasias, de prazer intenso (...) expectativa construída e mantida por uma variedade de práticas não ligadas ao turismo, como cinema, televisão, literatura, revistas e vídeos, que formam e reforçam esta contemplação fantasiosa voltada para reproduzir objetos sempre inéditos para “o olhar do turista” (Urry, 1990: 92). A idéia principal de Urry nos parece bastante próxima da nossa teoria expressa no livro Sonhar de Olhos Abertos (Droguett, 2004), o olhar é um ato reflexivo diferente da visão imediata, um modo sistêmico de ver, uma conseqüência dessa primeira ação que promove a subjetivação.
Os atrativos culturais que trouxemos para a análise estão inseridos no contexto da história e da cultura de Ubatuba, uma vez que ambas fazem parte do imaginário cultural da cidade que se recria nestes eixos simbólicos de sua vida. Parece interessante destacar que esta imbricagem da natureza real e do imaginário cultural faz com que o turista assuma papéis sociais diversos em cenários exóticos e aí o turismo inventa e convida para encenações de papéis o tempo que dura a permanência do turista no local. O turismo tende a transformar a cultura em museus, fenômenos culturais que podem ser vistos como curiosos, peculiares e locais. O grande paradoxo do turismo é a procura de culturas locais autenticas, no entanto, a indústria ao criar ilusões midiáticas de autenticidade reforça a experiência do simulacro social e cultural.
Após o fenômeno de massas que afetou diretamente a demanda turística veio a cultura das mídias, a cultura dos meios de comunicação social que tanto influencia a vida dos seres humanos hoje em dia. O turismo nessa efervescência dos meios adere ao poder invisível da globalização, a uma força de homogeneização crescente baseada no poder econômico. Ubatuba não foge desse fenômeno enquanto cidade, a imagem veiculada pela mídia que enaltece um paraíso natural “inexplorado”, próprio para a prática de esportes aquáticos radicais, desconhece o valor histórico - cultural do local.
Os atrativos histórico – culturais de Ubatuba são eloqüentes a respeito de um passado vivo na memória de seus habitantes, nos seus costumes, no folclore, mas, sobretudo no seu imaginário, ancorado nas tradições caiçaras silenciada pelo esnobismo de um turismo comercial e desterritorializadas em função d e um suposto progresso econômico da região.
PRÓXIMA ATUALIZAÇÃO 25 DE OUTUBRO
Vamos seguir viakgem pelo livro " Ubatuba , espaço, memória e cultura" , dos autores Juan Drouguet e Jorge Otavio Fonseca, editado em 2005, este livro pod ser encontrado na Biblioteca Municipal de ubatuba , Praça 13 de Maio, 52 - Centro
CAPITULOS :
. O DIA A DIA DE UBATUBA, DO NASCER AO POR DO SOL
OS GUERREIROS DE IPEROIG E A FORÇA DA RAÇA LITORÂNEA
Nenhum comentário:
Postar um comentário