Uma cena comum entre os habitantes de Ubatuba é a de perceber índios da Aldeia Boa Vista circulando pelo centro comercial da cidade, entre supermercados, lojas e sacolas. Quem anda pelo calçadão e se vê diante dessa cena cotidiana, pode fazer um exercício de distanciamento histórico e cultural e pensar sobre como é imperativa a dinâmica constante da vida.
Exatamente onde, há menos de quatro séculos, talvez vivessem os ancestrais dos índios locais, em suas ocas e ocaras (espécie de praça central da tribo); onde faziam suas festas, comiam o produto da caça, pesca, colheita e pedaços moqueados dos inimigos; onde se sentavam para contar e ouvir histórias tão importantes para a preservação de seus elementos culturais, hoje sentam-se para descansar, em meio a sacos de papel e sacolas plásticas, os índios e índias que vêm ao centro da cidade, depois de terem “caçado e colhido” seus alimentos nos mercados modernizados e antes de pegarem um ônibus pra voltarem à Aldeia.
Podemos ter a impressão de que estão à margem, tanto da sociedade “caraíba”, quanto de sua própria cultura ancestral.
Por certo, não vivem tão tranquilos e senhores absolutos do espaço, como antes. Por certo têm problemas de ajuste e adaptação de valores próprios, frente às armadilhas consumistas que, suicidamente, desenvolvemos. Por certo, caem nas garras da sedução branca (religiosa, etílica e pecadora). E por tudo isso lhes devemos desculpas históricas e temos a obrigação de fazer o “mea culpa” (em latim para ficar mais jesuítico!).
Porém, sabemos do trabalho de preservação cultural que é feito por eles próprios, dentro da Aldeia Boa Vista e de sua importância frente às velozes descaracterizações culturais contemporâneas. E torcemos para que continuem ativos, esses preservadores dos valores indígenas.
As mudanças são imperativas e é impossível viver à margem delas. Porém, se saber quem é e de onde se vem é fundamental para escolher para onde se vai.
Escrito por Heyttor Barsalini
FONTE : ubatuba em revista
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