Estamos em pleno mês de maio na nossa Ubatuba. A natureza tem se alterado muito, e em particular, neste ano tem apresentado um novo visual e uma nova roupagem. Temperaturas altas, chuvas em épocas não comuns tem sido uma constante em 2002. Todavia “os maios” de outrora eram diferentes para os antigos habitantes de nossa Iperoig (atual Ubatuba).
Para os primeiros habitantes de nossa terra, maio era o início de uma grande fartura que ia até o mês de agosto. A diminuição da temperatura obrigava homens e animais a uma grande migração para o nosso litoral. Essa movimentação de homens, pássaros e outros animais causava uma grande alteração na ocupação de nossas praias e áreas do litoral. Seria como vivêssemos, guardadas as proporções, a nossa temporada de verão em pleno inverno.
As frutas eram abundantes, a pesca (principalmente de tainha) e os frutos do mar levavam os nossos indígenas, que eram grandes canoeiros, a terem grande fartura.
É nesse ambiente que vivíamos em 1563, quando a tentativa de exploração desse território, ocupado pelos tupinambá, gerou um grave atrito entre portugueses e indígenas. A revolta dos índios e o endurecimento da política colonial portuguesa culminou com a chamada “união dos donos da terra”, para os índios e “Confederação dos Tamoios”, para os portugueses.
Tendo em vista as ameaças às vilas de São Paulo e São Vicente busca-se uma tentativa de acordo, fato este ocorrido em setembro de 1563. Na busca de entendimento surgem as figuras dos jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta como elementos capazes de cessar as constantes lutas já travadas entre portugueses e índios.
Nessas lutas, tupinambá já tinham perecido ou sido transformados em escravos e portugueses também já haviam sido sacrificados.
Em 18 de abril de 1563, em pequenas embarcações os jesuítas deixam São Vicente rumo a Iperoig. Alguns dias permaneceram na fortaleza de Bertioga e na Ilha de São Sebastião. Em 5 de maio, chegam a aldeia de Coaquira (chefe tupinambá em Iperoig).
Em carta de l565, enviada por Anchieta ao Padre Diogo Lainez, seu superior em Roma, o jesuíta descreve com detalhes todos os fatos ocorridos em sua estadia em Ubatuba.
A princípio com muita desconfiança de ambas as partes os primeiros contatos entre jesuítas e indígenas foram realizados, ainda dentro das embarcações. Logo em seguida houve troca de reféns e após estabelecerem relativa confiança, os brancos foram convidados a desembarcar.
Como escreve Anchieta em sua carta ao superior “... desejando eles que saíssemos à terra a ver os seus lugares, para se acabarem de assegurar, saímos e com nós outros, oito ou nove portugueses ...” “... chegados à praia pusemo-nos de joelhos dando graças ao Nosso Senhor ...”. Passados os primeiros contatos em terra firme, alguns permaneceram na mesma, sob o controle dos índios e outros, dentro das embarcações também sob o controle dos mesmos.
Contudo, “... em o primeiro Domingo depois que saímos ou seja 9 de Maio fizemos um altar em um bosque, junto ao lugar e dissemos a primeira missa naquela terra ... “.
Eis a primeira missa em Ubatuba, realizada em 9 de maio de 1563. Oficiada por Nóbrega e Anchieta e assistida por pouquíssimos brancos e muitos índios.
Ziznho Vigneron
Nenhum comentário:
Postar um comentário