terça-feira, 21 de julho de 2009

Saúde realiza paralisação em busca de melhores condições




Nesta última quarta-feira, 20, os funcionários da Secretaria da Saúde pertencentes às categorias: Atendente de enfermagem, ADC- auxiliar consultor e recepção, com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores, realizaram durante todo o dia uma paralisação em frente ao Posto de Saúde, no centro da cidade, para reivindicação de retorno da jornada das seis horas de trabalho diário.
Há cerca de duas semanas, o atual prefeito está ordenando que estes funcionários cumpram uma jornada de oito horas diárias, como dizem as normas do concurso. Porém, muitos já têm 20 anos de casa e estão trabalhando há cerca de dez anos consecutivos em jornada de seis horas corridas, experiência que deu muito certo tanto para o funcionário como para os pacientes, que já estão habituados aos horários de atendimento dos postos espalhados pelo município.
Quanto ao profissional, que está diretamente com os pacientes, que faz a triagem de todos, cada um com suas deficiências e necessidades, está psicologicamente acarretando diariamente problemas, grosseiramente falando, “que não são seus”. São eles que escutam os desaforos e muitas vezes desabafos dos pacientes, lidando diretamente com suas enfermidades.
Os atendentes de enfermagem, principalmente de bairros distantes, fazem absolutamente tudo: limpeza dos postos, atendimento nas casas para todos aqueles que não têm condições de ir até o posto, recepção, agendamento com os médicos, e até mesmo atendimento de emergência até na madrugada, como partos. É na casa deles que a população vai procurar auxílio e nunca nenhum deles reivindicou ou foi gratificado com horas extras por isso.
A funcionária Maria de Fátima Souza, 44, há 20 anos trabalhando no Posto da Praia Dura, mora no Corcovado e muitas vezes teve que fazer o percurso a pé até sua residência, diz que com estas oito horas tem uma parada de almoço de duas horas, porém o paciente reclama se fecham as portas, pois ele quer é ser atendido. Muitas vezes, ele veio de longe e tem que esperar o horário de almoço em uma longa fila. Outro problema é que às vezes o paciente chega às 17h50 e, claro, ela fica para atendê-lo com o maior prazer, porém o seu caso pode levar alguns minutos ou horas. Somente depois de sua ida é que vai limpar todo a área de trabalho para o dia seguinte.
Que horas esta funcionária vai chegar em casa? É difícil calcular. Isso sem contar que tem uma família lhe esperando, querendo toda sua atenção.
Neste caso, comum em todos os postos, nem as horas extras se fossem rigorosamente pagas - argumentam alguns funcionários - não valeriam a pena.
A funcionária Mercedes Maria Oliveira, 56, também há 20 anos na Saúde, diz que uma vez teve que fazer um atendimento de emergência com uma arma na cabeça, pois tratava-se de um traficante que entrou dentro do posto e obrigou-a air até o local. Tratando-se de uma vida, ela fez os curativos com todo o cuidado necessário. E a vida dela quem protegeria? Só Deus. Isso sem contar as noites em que é procurada com emergência.
Alguns funcionários do próprio Centro de Saúde dizem que este horário de almoço é complicado, não tem um refeitório e muitos, se tiverem que ir até sua distante casa, não teriam tempo hábil de chegar a realizar a refeição.
Outra argumentação é que se todos fizerem uma jornada de oito horas diárias, o Centro de Saúde não comportaria todos ao mesmo tempo, ou seja, mesmo o secretário fazendo escalas diferenciadas todos iriam se encontrar em um determinado horário, causando um caos nos corredores e nas salas dos médicos por falta de espaço físico.
Eles esperam que o Executivo, que mostra-se intransigente, entenda que isso só está prejudicando uma experiência implantada há quase dez anos e que está dando muito certo. O que falta, na verdade, é mais funcionários e condições de atendimento.
A sugestão da classe é que se use o exemplo das auxiliares de serviços infantis (que conquistaram através de Lei específica a regulamentação da jornada de seis horas diárias) sem redução do salário mostrando assim o reconhecimento destes dedicados profissionais, que são responsáveis pela necessidade primária de toda uma população que necessita de saúde e um bom atendimento. Entendemos que um funcionário não satisfeito irá refletir em seu atendimento e, humanamente, o que está diretamente ligado a esta primeira necessidade nunca estará bem psicologicamente com esta carga, pois as duas horas de almoço não significam descanso.


FONTE : Jornal A Semana - Ubatuba 23 de Fevereiro de 2002 Edição Nº 172 Ano III

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