sábado, 4 de julho de 2009

FAZENDA DA CAIXA : Um fragmento de história em solo ubatubense




Quando alguém se dispõe a desvendar os mistérios de Ubatuba, pode ter certeza que encontrará muitos motivos para se encantar e muitas surpresas pelo caminho. As paisagens paradisíacas, o passado se misturando com os tempos atuais, a mata verde que cobre cada pedaço de chão e esconde os mistérios, as histórias, as lendas, o povo caiçara...

O passado está presente em pequenos detalhes encontrados aqui e ali. A Fazenda da Caixa é um desses fragmentos da história que resistem ao tempo e à falta de recursos para restaurá-los e mantê-los como provas vivas da importância de Ubatuba no contexto da formação do Brasil.
Indo pela BR-101, em direção ao Rio de Janeiro, cerca de 30 km do Centro, de um lado avista-se a Praia da Fazenda, majestosa e bela. Do outro, há uma entrada sutil, que parece querer conduzir ao interior da Mata Atlântica. Seguindo por essa estradinha de terra, percebe-se que é uma pequena vila, de moradores legitimamente caiçaras. Algumas casinhas de pau à pique, outras de bloco, senhoras na janela, crianças com pouca roupa, brincando nos quintais de terra. De repente, o caminho se bifurca e, ao final da estradinha à esquerda, uma construção diferente obriga o motorista a interromper sua viagem.
Ali, ao lado de um rio límpido e raso, ergue-se um grande moinho, uma roda de engenho, movida pela força da água. Nas paredes do fosso que abrigam a roda de madeira, uma demonstração da contribuição e do trabalho dos escravos. Pedras gigantescas encaixadas perfeitamente, pesadas colunas, uma chaminé bem alta, construída de tijolinhos, uma caldeira de ferro, corroída pelo tempo. No passado, mais precisamente no século XVIII, essa fazenda tinha o objetivo de beneficiar a cana, transformando-a em álcool, cachaça e açúcar. Embrenhada na mata está a Trilha do Corisco, que termina em Paraty e era uma das rotas por onde as mercadorias produzidas na ?Fazenda da Caixa? seguiam. O rio, nessa época, era navegável, permitindo que a produção também seguisse em embarcações.
Hoje, os tempos são outros. A Fazenda da Caixa é chamada de ?Casa da Farinha?, porque foi adaptada para a produção de farinha de mandioca, na década de 50. Virou propriedade do Governo do Estado e está situada no Núcleo Picinguaba, uma área de preservação que impede o plantio de mandioca na quantidade necessária para realizar a produção de farinha. A terra utilizada exaustivamente cansou-se de produzir e a Casa da Farinha só funciona de vez em quando.
Para as pessoas que gostam de ouvir histórias e conversar, não basta ver as paredes, é preciso ousar um pouco mais e procurar as pessoas que moram nos arredores da Fazenda. Os caiçaras mais velhos adoram receber visitas e contar seus ?causos?. A cultura desse povo está se perdendo, mas ainda é possível encontrar pessoas que conhecem os costumes passados de geração para geração. Indo um pouco além da ?Casa da Farinha? tem a casa do ?Seu? Zé Pedro, um senhor simpático, descendente de escravos, dono de uma grande sabedoria. Seu Zé parece estar preparado para conversar sobre qualquer assunto. Apesar de não ter televisão, nem tampouco energia elétrica, assim como todos os moradores dali. É um homem politizado, um líder comunitário que conhece a todos e batalha por seus interesses. Ficando amigo do Seu Zé, o resto ele apresenta, conta a história da Fazenda da Caixa, da Casa da Farinha, dos escravos, da política municipal, das venturas e desventuras do povo caiçara e muito, muito mais...
Conversar com ele é ficar sabendo dos tempos em que a BR-101 não existia e os moradores iam para ?a cidade? num pequeno barco, que ia buscando os moradores em diversas praias pelo caminho. ?A gente pagava um cruzeiro pro dono do barco, mas acho que ele é que devia pagar uns três cruzeiros pra gente andar no barco dele. Espirrava um monte de água e balançava muito, a gente chegava molhado na cidade. Em Ubatuba tinha só uma pousada, tinha que pagar adiantado e não podia chegar depois das oito. Um dia, chegamos e já estava fechada, batemos na porta e o dono saiu bravo. Então, pedimos o dinheiro de volta e ele resolveu deixar a gente dormir, chegando no quarto, era pulga pulando pra todo lado?, diverte-se com a lembrança Seu Zé Pedro.
Enfim, conhecer Ubatuba, não é apenas tomar sol na Praia Grande, passear pela avenida e tirar foto no farol. Para quem não se contenta com o costumeiro, as surpresas são infindáveis. Beleza e história se misturam a cada palmo de chão. É preciso sair desvendando, buscando e pesquisando. Invariavelmente, o que acontece com quem ousa é se apaixonar perdidamente por essa terra e não querer mais ir embora, porque demora um bom tempo para descobrir tudo o que há.


FONTE : Prefeitura de Ubatuba

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