quinta-feira, 3 de abril de 2008

ESPECIAL: Ubatuba, espaço,memória e cultura" - 18 ª Parte do Livro

4. CASA DA FARINHA – FAZENDA PICINGUABA

Localização


A Casa da Farinha e Fazenda Picinguaba estão localizadas no extremo norte do município de Ubatuba, na altura do km 12 da rodovia Rio – Santos, BR 101, próximo à entrada do Núcleo Picinguaba a uns 37 km do centro urbano da cidade, com placa a esquerda de localização do local.

Horário de funcionamento

Por se tratar de um atrativo do patrimônio cultural a “céu aberto” numa integração perfeita com a natureza local, pode ser visitado a qualquer hora do dia.

A história que antecede a própria história da Casa da Farinha, na Fazenda da Picinguaba, hoje o Núcleo Picinguaba é bem curiosa e muito interessante. Antes mesmo deste atrativo que faz parte da cultura histórica do município e sua comunidade local ter a grande importância para o desenvolvimento desta e se transformar no futuro em um marco histórico, representou a conquista de trabalhadores da região.

Localizada especificamente em uma fazenda, a “Fazenda Picinguaba”, hoje dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, área esta de preservação ambiental[1], antes mesmo de se chamar Casa da Farinha, era um engenho de cana-de-açúcar e moinho de fubá.

Esta fazenda que passou de mão em mão, de herdeiro a herdeiro, inicialmente, no ano de 1843, era de propriedade do Sr. Manoel da Silva Alves, deixado para sua esposa então herdeira direta, após a sua morte. Dona Maria Alves de Paiva com o seu falecimento deixa como herança ao sobrinho José Cardoso de Paiva que no ano seguinte vende ao então Capitão Firmino Joaquim Ferreira de Veiga. Este por sua vez construiu no local o engenho de cana-de-açúcar e moinho de fubá.

A idéia inicial do Capitão Firmino era interessante. Ele queria povoar a localidade e sua fazenda com famílias de imigrantes italianos formando assim uma colônia com 45 famílias. Mas, com o passar dos anos a maioria destas famílias foram embora, ficando alguns descendentes de italianos no que hoje se tornou o Núcleo Picinguaba[2].

Com a hipoteca da Fazenda ao Banco do Brasil e da República do Brasil, cedida em seguida ao Banco Hipotecário do Brasil, o Capitão Firmino deixa de ser proprietário e com isso o moinho de fubá e o engenho foram desativados. Em ruínas restaram duas pedras originais e a roda d’água de ferro; e do engenho o moedor de cana-de-açúcar, a caldeira e o eixo, peças estas importadas da Inglaterra.

Pedro Ozório e Eduardo Delaporte são os novos proprietários no ano de 1907. Estes compram do Banco a fazenda hipotecada, mas por não conseguirem pagar, logo volta ao mesmo Banco Hipotecário do Brasil que em sociedade com a A.S.CIA. Agropecuária, no ano de 1928, colocam entre outros imóveis como Capital Social da Firma a Fazenda Picinguaba.

No ano de 1950, já em posse e propriedade do Senhor Saint Clair Bustamante e Silva, este manda construir a 1 km do local do engenho a Casa da Farinha, aproveitando-se do que restou do antigo engenho. Contratou os serviços do Sr. Werneck de Araújo da Cidade de Parati, um profissional da madeira,para a construção de uma roda d’ água substituindo a anterior roda de ferro que havia sido roubada. Infelizmente, após um ano na fabricação de farinha, como um estigma da fazenda, o antigo engenho e agora Casa da Farinha é abandonado. Mesmo assim a farinha continua sendo produzida na região e nas suas proximidades em casas rústicas de famílias dos pequenos produtores e de forma artesanal.

Mais uma vez a Fazenda Picinguaba é penhorada à Caixa Econômica Estadual do Estado de São Paulo pelo proprietário o Senhor Saint Clair em uma tentativa de obter recursos e assim investir nas terras, mas não fazendo bom uso do investimento, Saint Clair abandona a região e vai embora.

A Caixa Estadual, por sua vez, levou para o local, famílias e logo em seguida, a fazenda foi doada à Marinha que faria do local uma Escola Naval na Praia da Fazenda, mas pelo fato de suas águas serem rasas, não permitindo manobras das embarcações de grande porte, este projeto também não foi realizado, e voltou à Caixa do Estado, sendo desapropriada.

Mas graças a esta desapropriação, o Governo do Estado de São Paulo transforma toda esta área de 310.000 hectares, no Parque Estadual da Serra do Mar, o que veio a ser o Núcleo Picinguaba. Em uma gestão de dois anos seguidos, consegue-se que a Casa da Farinha ocupe uma faixa de 30.000 hectares dentro do perímetro do Parque. Então, hoje a Fazenda e mais cinco praias são protegidas estando abrigadas dentro de uma área de preservação ambiental.

Parece até que toda esta história narrada a respeito da área que inclui a Fazenda Picinguaba, desde o primeiro proprietário e os subseqüentes herdeiros, a intenção de colonização das famílias, da idéia do Engenho, do Moinho e da Casa da Farinha não frutificou em função dos interesses particulares de seus precursores, fortalecendo hoje a idéia de proteção e preservação das matas, rios e praias da região norte que é o forte de Ubatuba, tornando-as famosas pela sua natureza e não pela intervenção e expropriação da mesma.

[1] O Parque Estadual da Serra do Mar tem uma área total de 309.000 hectares, estando 69% localizado no setor norte do Estado de São Paulo. Criado pelo Decreto nº 10251 de 30/08/1977, ocupando a maior parte do Município de Ubatuba, tendo como objetivo assegurar a integral proteção da fauna, da flora e das belezas naturais bem como disciplinar a sua utilização para fins específicos, educacionais e recreativos. Assim, tem incorporado à sua área original o Núcleo Picinguaba, através do Decreto nº 13313 de 1979. Artigo: Parque Estadual da Serra do Mar. Revista Igarati, nº 7, 1994.
[2] O Núcleo Picinguaba localizado no extremo norte de Ubatuba – SP, representa uma das mais significativas áreas naturais do Parque Estadual da Serra do Mar. Abrange uma área que vai desde a Ponta da Trindade (divisa de São Paulo e Rio de Janeiro) onde inicia, até a Ponta da Espia, o Núcleo acompanha a linha divisória com os terrenos da marinha. A partir da Ponta da Espia, segue pela vertente, cruza a BR 101 passando pela cota 100 seguindo pelo divisor de águas até atingir o Morro do Corisco – divisa de São Paulo e o Rio de Janeiro. Deste local, segue pela linha divisória (Serra de Paraty), encontrando novamente a Ponta da Trindade e assim, completando o perímetro do Núcleo, somando um total de 7850 hectares, sendo a única região do Parque Estadual da Serra do Mar a atingir a orla marítima. Existem dentro deste Núcleo seis aglomerados humanos, dentre esses três grupos urbanos sendo uma vila e dois bairros. Referência Bibliográfica idem Nota 18.

Texto extraído do livro " Ubatuba, espaço,memória e cultura" , editado em 2005 - Autores : Juan Drouguet e Jorge Otávio Fonseca.

O livro pode sere ncontrado na Biblioteca Municipal de Ubatuba , Praça 13 de maio, 52 - centro

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