domingo, 18 de novembro de 2007

DO LIVRO " Ubatuba, espaço , memória e cultura " : Os gênios da mata" - 1 ª Parte

Os gênios da mata são na mitologia Tupinambá, seres sobrenaturais pertencentes a duas categorias: potências malévolas e espíritos propriamente tais. Thevet recolhe tradições que falam do diabo com distintos nomes como Yurapiri. Segundo os missionários advindos ao Novo Mundo, este espírito do mal, guarda uma estreita relação com o diabo da religião católica. Sob a dependência deste espírito, outros agem em função dessa causa escura da humanidade. Yurapiri teria sido um empregado de Deus que devido a suas maldades foi dispensado do serviço divino. Tal demônio odeia a humanidade e impede com que as chuvas garantam a coleta de sobrevivência, maltrata os homens inspirando-lhes o medo e traindo-os diante da guerra contra os inimigos da tribo. Yurapiri é um demônio que “não presta e não vale nada”, associado em algumas oportunidades aos espíritos dos mortos e ao perambular por aldeias abandonadas, especialmente onde estão sepultados os corpos de seus parentes.

A natureza de Yurapiri está relacionada com o lugar que este freqüenta, isto é, com os bosques. É uma espécie de duende túpico, ogre ou divindade que aparece de acordo com cada tribo, em nenhum caso, afirma Métraux, opondo-se a Yves d’ Évreux, tem a ver com a alma dos mortos.

Os Tupinambá estabeleceram certa afinidade entre Yurupari e certas aves cujo canto ou aspecto pudessem inspirar sentimento de terror. Algumas das lendas chegam a sugerir intimidade sexual entre este espírito do mal e as aves de rapina.

Agnan ou Anhangá é um ser comparável a Yurupari, cuja ação principal era atacar as pessoas vivas, causando o maior terror entre os Tupinambá. Agnan provocava grandes violências repentinas em público, mas sob uma forma invisível. Os índios que relataram possessão deste espírito do mal afirmavam vê-lo na forma de um animal, de uma ave ou de qualquer outra forma esquisita. Para defender-se dos ataques desse malévolo que lhes ocasionava angústia, os Tupinambá não saiam de noite sem levar consigo um archote . Agnan ficava perto de túmulos abertos, devorando cadáveres quando nestes não eram depositados alimentos e bebidas de acordo com o costume. Agnan surge na mitologia Tupinambá episodicamente, no final da história dos gêmeos míticos, no papel do ogro, com o qual os dois “manos” entram em luta. Os gêmeos fazem deste personagem o bode expiatório, sem recear nenhuma represália por parte do mesmo.

Métraux interpela missionários e viajantes na ora de afirmar que Agnen é um “diabo” e atribui como causa desta confusão o caráter homonímico das palavras “añanga” e “agn” que é um designativo de alma, também com “angueré” que significa as almas destacadas do corpo. Talvez Agnen, um simples espírito da mata foi promovido pelos missionários, o mesmo que Tupã, à dignidade de diabo, em virtude dos malefícios causados por estas entidades à humanidade Tupinambá.

Kurupira é outro demônio das matas, protetor da caça e muito mal humorado a respeito dos homens. Sua forma mais conhecida entre os Tupinambá é a de um homenzinho que anda com os pés para trás. Kupira é uma imagem própria do litoral à qual Anchieta faz referência nas suas cartas. Para o jesuíta, os cupiras eram os espíritos que assaltavam os índios na floresta, açoitando-os, maltratando-os e até matando-os. Por esta razão, os selvagens - diz José de Anchieta, depositam flores e outros objetos em oferenda a tais demônios.

Os coropiras, cupiras e outras designações achadas nas tradições Tupinambá são fantasmas de Kurupira, desdobramentos deste espírito de aspecto humano, pois tinham a cabeça pelada e a semelhança dos Tupinambá andavam nus no só no meio da mata, mas também nas praias.

Um outro espírito é reconhecido na mitologia Tupinambá com o nome de Macachera, espírito das estradas que vai à frente do viajante, os Tupinambá viam nesse demônio um inimigo da saúde.

O padre José de Anchieta descreve nas suas epístolas que havia também nos rios outros fantasmas, Igpupiára, isto é, aqueles que moram na água e que também costumavam matar os índios. Os que viviam nas proximidades do mar ou dos rios eram chamados de Beatatá, que quer dizer, coisa de fogo ou todo fogo. Anchieta provavelmente se referia ao espírito dos mortos com os quais os Tupinambá lidavam ante a falta de um Deus.

Os espíritos nas crenças Tupinambá perambulavam por toda parte, principalmente na mata e em lugares escuros, manifestando-se de forma sinistra. Os espíritos dos mortos freqüentavam a proximidade das tumbas e seu comportamento era hostil em relação aos homens, causavam doenças, dificultavam o devir das chuvas e propiciavam a derrota na guerra. Estes espíritos agrediam fisicamente e atormentavam os índios de diversas maneiras.

CONTINUA..........Veja a 2 ª parte no dia 25/11/07

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