O texto extraído abaixo sobre o caiçara Jorge Fonseca foi extraído do Livro " Ubatuba - Espaço, memória e cultura " dos autores Juan Drouguet e Jorge Otávio Fonseca, este último meu irmão, editado em 2005.
Jorge Fonseca, nascido e criado no litoral. Ele aprendeu a conhecer seu espaço e dele obter informações para garantir sua sobrevivência e de seus numerosos descendentes. Este depoimento nos mostra a força e a sabedoria do cotidiano de um caiçara.
Jorge Fonseca tem 81 anos, nascido em Ubatuba, é filho de Jesuíno Joaquim da Fonseca e Donária Maria da Conceição. Ele fala da origem de sua família e diz que seu avô, pai de Donária, era Antônio Lopes Guimarães - neto de francês, que juntamente com Dona Maria Alves, chegou ao município vindo de Rio de Janeiro. Antonio já estava viúvo, porém casou-se novamente com Izabel da Conceição, uma índia mestiça descendente de escravos. Antônio Lopes, avô de Jorge Fonseca adquiriu terras em Ubatuba de Dona Maria Alves, transformando-as em fazenda. Eram grandes áreas localizadas nas Toninhas, Casanga e Cedro, onde se cultivava plantações de fumo, café e cana, que depois transportavam à Santos em canoa de voga.
A família de Jorge Fonseca era formada por mais sete irmãos, eram eles: Hortência, Nestor, Maria, “Guaiá”, Luiz e “Biscoito”. Este último, tornou-se muito conhecido em Ubatuba pelo ofício de tintureiro. Biscoito, como era carinhosamente conhecido por todos, morava bem no centro de Ubatuba, nas proximidades onde hoje se encontra a casa lotérica, ao lado do Cartório Eleitoral. Biscoito passava roupas para os clientes da lavanderia de sua mulher: eram ternos, camisas e vestidos. Sua janela, que fazia frente à Rua Coronel Domiciano, era local conhecido por muitos ubatubenses, pois ao mesmo tempo em que Biscoito passava as roupas, sua televisão - a primeira de Ubatuba vivia ligada, servindo de passatempo para muitas pessoas que ali paravam para jogar uma conversa fora e assistir a programação diária.
Jorge morou até os 15 anos em uma área, onde hoje se encontra a Praça Treze de Maio, uma propriedade de seu pai Jesuíno Joaquim da Fonseca que plantava e criava animais, não só ali como também em áreas localizadas no Horto. Trabalhou de sol a sol até o final de sua vida, de forma trágica aos 86 anos. Segundo Jorge Fonseca, em um sábado de Aleluia, seu pai e mais dois irmãos foram à costeira, na praia do Perequê Açu para “catar” marisco e, na volta, no meio do caminho, seu Jesuíno decide apanhar mais um pouco, e estando de costas para o mar agachado, uma onda forte o derrubou e o arrastou para o fundo do mar. No dia seguinte, no domingo de Ramos acharam seu corpo com a cabeça ferida, na praia do Perequê Açu e ajudado pelo Félix Guisard, o levaram, na sua camionete, até a Santa Casa, mas sem vida. Já, Donária Maria da Conceição, mãe de Jorge Fonseca, era parteira muito conhecida em Ubatuba, era difícil encontrar algum cidadão que não houvesse nascido nas mãos de Donária. Ela, depois de muitos anos de Ubatuba, decidiu morar em Taubaté nos anos 40, retornando à Ubatuba onde veio a falecer anos depois.
Continua......
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