Jorge lembra também que já moço, aprendeu a fazer tarrafa, sozinho e que depois, em vez das caçadas, preferiu as pescarias de tarrafa em rios . Naquela época em Ubatuba, ninguém sabia fazer tarrafa, então um dia desses Jorge comprou um novelo de linha para tentar fazê-la sozinho, como não conseguia , resolveu dormir. Conta que sonhou estar fazendo a tarrafa de acordo com sua intuição e ao acordar, rapidamente, tentou lembrar do feitio, assim fez e teceu sua primeira tarrafa. Começou a pescar, jogando tarrafa no rio da Bica, na Picinguaba e no rio Quiririm na praia do Ubatumirim, local onde fez muitas amizades que permanecem até os dias de hoje.
O entrevistado disse que antigamente passava fome em Ubatuba quem queria, eram muitos peixes, uma variedade como tainha, robalo, carapeva e havia muito peixe tanto no mar como nos rios. Conta também que na praia do Itaguá havia cercos que chegavam a amontoar tantos peixes que ao final da distribuição se enterravam as sobras. Em época de tainhas, elas chegavam à baia do Itaguá em grandes cardumes, eram cercadas pelas canoas dos senhores Antonio Vieira, Alfredo Vieira, Benedito Junior e os Liberatos. Eram grandes redes, puxadas até a praia. Uma grande quantidade de enormes tainhas, que ao final eram repartidas entre eles e distribuídas à comunidade. Jorge Fonseca sente que hoje a coisa é bem diferente daqueles tempos de fartura. Diz que hoje os peixes são mirrados e a quantidade que vem nos arrastões da praia do Itaguá, mal alcançam para uma família de poucas pessoas.
Jorge Fonseca relembra os carnavais de Ubatuba com muita nostalgia, comenta que ele sempre foi um boêmio, desde os 10 anos de idade. Costumava escrever letras de marchinhas carnavalescas para os blocos que puxava. Diz que quando tinha uns 8 ou 9 anos de idade, seu pai fez um pandeiro de couro e tampinhas e o levava na rua para ver o bloco “Taruma”, um dos blocos mais famosos de Ubatuba. “Ubatuba já teve o melhor carnaval de rua do litoral paulista.” Além do Taruma, havia a Dança da Fita, a Dança do Bugre, do Boi do Itaguá e do Boi do Centro, a Banda do Cipó, o Moçambique do Mané Raé e até o casamento caipira que era realizado em pleno carnaval, na praça da matriz.
TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO " UBATUBA, ESPAÇO, MEMÓRIA E CULTURA , DOS AUTORES Jian Drouguet e Jorge Otávio Fonseca
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